sábado, 4 de novembro de 2017

Os Nove Caminhos do Bon




 Os nove caminhos do Bon-Po Dzogchen.


Reinaldo Ribeiro


Tonpa Shenrab - O Fundador do Bon

O fundador da religião Bon é o Lord Shenrab Miwo. No passado, existiam 3 irmãos: Dagpa, Salba e Shepa, que estudaram as doutrinas do Bon no céu chamado Sridpa Yesang, sob o sábio Bon Bumtri. Quando completaram seus estudos, eles visitaram o deus da Compaixão, Shenlha Odkar, e perguntaram a ele como poderiam ajudar os seres submersos na miséria e tristeza do sofrimento. Ele os aconselhou a agirem como guias para a humanidade, em 3 eras sucessivas do mundo.
Para seguir seu conselho, o irmão mais velho, Dagpa, completou seu trabalho na era passada. O segundo irmão, Salba, nomeou-se Shenrab e tornou-se o mestre e guia da era atual. O irmão mais novo, Shepa, tornar-se-á o mestre na próxima era do mundo.
Lord Shenrab nasceu no Palácio Barpo Sogye, ao sul do Monte Youngdong. Nasceu príncipe, casou-se jovem e teve filhos. Aos 31 anos, renunciou ao mundo e viveu em austeridade, ensinamento e doutrina. Durante toda a sua vida, seus esforços para propagar a religião do Bon foi obstruído pelo demônio Khyaba Lagring. Este demônio lutou para destruir ou impedir o trabalho de Tonpa Shenrab, até ele converter-se e tornar-se um discípulo.
Uma vez, perseguindo o demônio para recuperar seus cavalos roubados, Tonpa Shenrab chegou ao Tibet. Foi sua única visita ao Tibet. Lá, ele deu algumas instruções relativas à performance dos rituais, mas, no geral, achou a terra despreparada para receber todos os ensinamentos. Antes de deixar o Tibet, profetizou que todos os seus ensinamentos floresceriam lá, quando houvesse amadurecimento. Tonpa Shenrab morreu aos 82 anos. Existem 3 relatos de Tonpa Shenrab. O primeiro (século X), e mais breve, é conhecido como Dodu (mdo-dus), Epítome do Aforismo. O segundo (século XI), em 2 volumes, é chamado Zermik (gzermig), Olhos Penetrantes. O terceiro e mais extenso, está em 12 volumes conhecidos simplesmente como Zhiji (gZhi-brikid), O Glorioso. Pertence à categoria de escrituras conhecidas como "transmissões “espirituais” (bsNyan-rgyud). Acredita-se ter sido ditado a Loden Nyingpo, que viveu no século XIV.

As Tradições do Bonpo de Dzogchen

As Tradições do Bonpo e Nyingmapa de Dzogchen

No geral, os ensinamentos de Dzogchen são encontrados somente nas escolas tradicionais tibetanas do budismo Nyingmapa e dos bonpos não-budistas. Em ambos os casos, esses ensinamentos são essencialmente os mesmos em significados e terminologias, e ambas as tradições alegam ter uma linhagem tradicional, conservada até hoje, desde o século VIII, e até mesmo antes disso. Ambas as escolas afirmam que o Dzogchen não se originou no Tibet, mas tiveram uma origem na Ásia Central e foram, consequentemente, trazidos ao Tibet Central por certos mestres, como Mahasiddhas, ou grandes adeptos. Lá, portanto, parecia existir 2 antigas e autênticas linhagens para os ensinamentos Dzogchen, o Budismo e o Bonpo. Como eu havia discutido previamente sobre a tradição Budista Nyingmapa da origem do Dzogchen, em meu livro "As Cartas de Ouro", aqui pretendo apresentar uma visão geral preliminar da tradição Bonpo de Dzogchen, conhecido como Zhang-Zhung Nyangyund. Essa tradição Bonpo é especialmente importante para investigar, dentro das origens históricas do Dzogchen, porque alega representar a contínua tradição oral (snyan-rgyud), desde os primórdios vindos do Zhang-Zhung, no Tibet Ocidental.
Embora algumas histórias tibetanas, medievais e modernas, tivessem sido escritas por monges budistas claustros, retratam a antiga religião pré-budista do Tibet, chamada Bon, uma nefasta mistura de feitiçaria, magia negra, xamanismo e sacrifícios de sangue, surgindo para ser justamente uma propaganda anti-bonpo, conferindo um efeito melodramático. O principal objetivo desses historiadores budistas foi enaltecer a função do Budismo Indiano Mahayana, na história do Tibet, sugerindo que não havia nem cultura ou civilização, antes do advento do Budismo Indiano ao Tibet Central, no século VII da nossa era. A Índia, a terra natal de Lord Shakyamuni Buddha, foi considerada, não somente como a origem da
genuína religião e espiritualidade, mas como a origem da cultura civilizada em geral. Até mesmo a linhagem dos reis tibetanos foi reportada às origens indianas, por alguns historiadores nativos, como Go Lotsawa, Buton e outros. Outro problema é que o termo tibetano "bon", provavelmente deriva da antiga
forma verbal "bon-pa", significando "evocar os deuses", e tem 2 referências culturais diferentes. Na primeira, o Bon realmente refere-se ao pré-budismo indígena xamânico e à cultura anímica do Tibet, uma cultura que possui várias características em comum com outras culturas tribais xamânicas da Ásia Central e Sibéria. Contudo, essas envolvem vários tipos de práticas religiosas e crenças. A função central era ocupada pelo praticante, conhecido como Xamã.
A atividade do Xamã era definitivamente caracterizada como entrando em estados alterados de consciência por meio de cânticos, tambores, danças e, de qualquer forma, este estado alterado de consciência ou "êxtase" era entendido como a "viagem da alma", como uma experiência fora do corpo, ou uma forma de possessão por espíritos. A sua principal função social era a de curandeiro. Uma forma
tradicional xamânica da Ásia Central, envolvendo a possessão por espíritos, continua a ser praticada largamente no Tibet até hoje, tanto entre a população budista quanto à do Bonpo, assim como entre os refugiados tibetanos que vivem em outras partes de Ladakh, Nepal e Bhutan. Alguns praticantes são conhecidos como "lha-pa ou dpa-bo". Em outra região, nas periferias do Tibet, no Himalaia e ao longo das fronteiras Sino-Tibetanas, dentre certos relatos de oradores tibetanos, existem xamãs conhecidos como bonpos, como por exemplo entre os Na-Khi na China e entre os Tamangs, no Nepal.
Mas existe um segundo tipo de cultura religiosa, conhecida como "Bon", cujos adeptos alegam representar a cultura pré-budista do Tibet. Esses praticantes do Bon afirmam que, pelo menos parte de sua tradição religiosa não foi originária do Tibet, mas foi trazida do Tibet Central, em algum momento antes do século VII, do previamente independente país de Zhang-Zhung, oeste do Tibet, e mais remotamente de Tazik (stag-gzig), ou por oradores iranianos da Ásia Central, ao noroeste. Essa forma do Bon é conhecida também como Yungdrung Bon (gyung-drung bon), o "Ensinamento Eterno", um termo que poderia ser reconstruído em sânscrito como "Svastika-Dharma", onde a svástika ou a cruz solar é o símbolo de eternidade e indestrutibilidade, correspondendo em amplo sentido ao termo budista vajra ou diamante (rdo-rje). Complementando os relatos dos textos ritualísticos das práticas xamânicas e anímicas, a antiga tradição possui uma vasta coletânea de textos, também alegando serem pré-budistas na origem, relatando os altos ensinamentos do Sutra, Tantra e Dzogchen (mdo rgyud man-ngag gsum). Os Lamas Bonpos, ao invés de ficarem voltando-se para o príncipe do norte da Índia, Siddartha Gautama como seu Buddha e como a origem de seus mais elevados ensinamentos do Sutra, Tantra e Dzogchen, voltam-se até mesmo mais distantes no tempo, a outro príncipe, Shenrab Miwoche (gShen-rab mi-bo-chc), nascido em Olmo Lungring, na remota Ásia Central, como seu Buddha e como a origem de seus ensinamentos. Consequentemente, ao último é dado o título de Tonpa ou Professor (ston-pa), literalmente "aquele que revela".

Estudantes modernos questionam a historicidade da figura de Tonpa Shenrab, e ele apareceu, de fato, numa época fictícia da tradição Bonpo, afirmando que floresceu a 18000 anos atrás. Além disso, a ele é atribuído a Hagiografia nas buscas do Bonpo, de forma alguma inferior a de Shakyamuni Buddha, como encontrado, por exemplo, no Lalitavistara. (1) Ao lado de toda a fabulosa Hagiografia de Padmasambhava, encontrada na vasta literatura da escola de Nyingmapa (algumas como a Padma bKa-thang e a bKa-thang gsir-phreng), a carreira de Tonpa Shenrab representa um dos grandes ciclos épicos da literatura tibetana.
Para quem está de fora, este Yungdrung Bon, hoje em dia, apresenta-se um pouco diferente das outras escolas do Budismo Tibetano, em razão de suas elevadas doutrinas e práticas monásticas. O Bon Contemporâneo possui um sistema monástico muito parecido com o dos Budistas e a filosofia Madhyamaka é totalmente comparável com a das outras escolas budistas tibetanas. De acordo com os Lamas Bonpos, a principal diferença entre o Bon e as escolas Budistas é a linhagem, muito mais que os ensinamentos ou doutrinas, já que os Bonpos voltam-se para Tonpa Shenrab como seu fundador, e os Budistas voltam-se para Shakyamuni. De qualquer forma, todas essas numerosas figuras são manifestações da Iluminação de Buddah em nosso mundo, uma epifania que é tecnicamente conhecida como Nirmanakaya (sprul-sKu). O Dalai Lama tem agora reconhecido o Bon como a quinta escola religiosa tibetana, ao lado dos Nyingmapas, Sakyapas, Kagyudpas e os Gelugpas, e tem dado representação aos Bonpos no Conselho de Relações Religiosas, em Dharamsala. (2)

Notas:

(1) Lalitavistara:
Existem 3 principais biografias e hagiografias de Tonpa Shenrab no Bonpo:
a) mDo'dus ou Dus gsum sangs-rgyas Byung-khungs Kyi mdo
b) gZer-myig ou Dus-pa rin-pa-chei rgyud gzei-myig
c) gZi-brjid ou Dus-pa rin-po-che dri-ma med-pa gzi-brjid rab tu bar-bai mdo
Contudo, a carreira monástica de Tonpa Shenrab, no final de sua vida, revela muitas semelhanças ao relato da Grande Renúncia de Shakyamuni Buddha, e aos subsequentes ensinamentos, como encontrado, por exemplo, no Lalitavistara. Sua história de vida é diferente em origem, completamente independente de qualquer fato que remonte ao Budismo Indiano. Nesse sentido, a Escola Russa Kuznetsov vê Tonpa Shenrab como tendo sua origem iranianiana ou na Ásia Central. Certas escolas tibetanas contemporâneas vêem Tonpa Shenrab como sendo um nativo do Tibet, muito mais que um príncipe ou sacerdote oriundo da Ásia Central. Lonpon Tenzin Namdak, seguindo a tradição Bon, é assertivo em dizer que Tonpa Shenrab não era tibetano, mas originário de Ol-mo lung-ring, no qual identifica com Shambala. Nesse caso, Ol-mo lung-ring era um domínio místico e não uma localidade geográfica precisa, em algum lugar ao noroeste do Tibet, nos tempos históricos.

(2) Christopher Beckwith, um estudioso da Universidade Press, em Princeton, vê uma forte relação do velho reino tibetano com a Ásia Central. Em vista dessa conexão, o termo Bon possivelmente poderia ter sido tirado da linguagem de Sogdian, iraniana da Ásia Central, onde a palavra "bwn" significa "dharma". Essa palavra também aparace como primeiro elemento no livro de Zoroastro, de acordo com o processo de criação, o Bundahishn. Beckwith também tem apontado para um possível substrato Indo-Iraniano, na linguagem Zhang-Zhung. Os Sogdians foram os maiores comerciantes de tecidos do noroeste do Tibet e alguns textos budistas, na linguagem Sogdian, têm sido recuperados da Ásia Central.

O Desenvolvimento Histórico do Bon

Alguns historiadores e estudantes tibetanos estavam cientes desta distinção entre os 2 tipos de Bon, referidos acima (1), e, certamente, os próprios Lamas Bonpos também estavam. De acordo com um estudante nativo, Lonpon Tenzin Namdak, a história do desenvolvimento do Bon pode ser dividida em 3 fases:
1. O Bon Primitivo era o xamanismo indígena e anímico do Tibet e das regiões adjacentes, nos tempos remotos. De fato, de acordo com a tradição Bonpo, algumas dessas práticas eram como invocações de deuses (lha gsol-ba) e ritos para exorcizar espíritos malígnos (sel-ba). Isso foi, na verdade, ensinado pelo próprio Tonpa Shenrab, quando fez uma rápida visita a Kongpo, no Sudoeste do Tibet, nos tempos pré-históricos (2). Muitos ritos foram posteriormente incorporados dentro da classificação de ensinamentos e práticas do Bon, conhecidos como os Noves Caminhos ou Veículo (theg-pa rim dgu). Esses tipos de práticas xamânicas são atualmente conhecidas como "Os Caminhos Causais do Bon" (rgyu'i theg-pa). Os ensinamentos e práticas encontrados nesses Caminhos são considerados dualísticos em seu ponto de vista filosófico, ou seja, os deuses (lha) representam as forças da luz e ordem, chamadas Ye, e os demônios (bdud) representam as forças da escuridão e do caos, chamadas Ngam, tendo uma existência independente. O interesse do praticante está principalmente na performance dos rituais, que invocam as energias positivas dos deuses e afastam as influências negativas dos demônios e espíritos malígnos (gdon). Um exame dos textos ritualísticos em questão, revelam amplamente serem de uma origem não-hindú. Todavia, assim como o Budismo em geral, o Yungdrung Bon é totalmente contrário à práticas de sacrifícios de sangue (dmar mehod), sendo que as origens de certas práticas são atribuídos aos demônios canibais Sinpo (srin-po) e não a Tonpa Shenrab. Portanto, os Lamas Bonpos têm repugnância em identificar até mesmo os Caminhos Causais do Bon com o xamanismo dos Jhangkris, ou os xamãs que ainda florescem nas montanhas do Nepal e continuam, até hoje, a realizar sacrifícios de sangue.

2. O Bonpo Antigo (bon rnying-ma) ou Yungdrung Bon (g.yung-drung bon), consiste nos ensinamentos e práticas atribuídas a Shenrab Miwoche, em sua função como Mestre, ou a Busca da Revelação (ston-pa ), e, particularmente, significa os altos ensinamentos do Sutra, Tantra e Dzogchen. Ele revelou esses ensinamentos aos seus discípulos em Olmo Lungring, na terra e em qualquer lugar do reino celestial, em sua antiga encarnação como Chimed Tsugphud (chi-med gtsug-phud). Esses ensinamentos de Tonpa Shenrab, já marcados em escritos de sua própria época, ou no período seguinte, dizem terem sido levados tardiamente de Olmo Lungring, em Tazik, ao país do Zhang-Zhung, no Tibet do Norte e Ocidental, onde foram traduzidos na linguagem Zhang-Zhung. O Zhang-Zhung parece ter sido uma linguagem real, distinta do Tibetano, e aperentemente relacionada ao dialeto Tibeto-Burman, do Oeste do Himalaia, de Kinauri. Nesse caso, não foi uma criação artificial fabricada pelos Bonpos, visando ter uma linguagem antiga original, correspondendo ao sânscrito indiano das escrituras Budistas.
Iniciando com o reinado do segundo rei do Tibet, Mutri Tsanpo, é falado que certos textos Bonpos, em especial o Tantras Pai (pha rgyud), foram levados de Zhang-Zhung ao Tibet Central e traduzidos na linguagem tibetana. Assim, os Bonpos afirmam que os Tibetanos adquiriram um sistema de escrita nessa época, baseado nos manuscritos sMar-yig, usado no Zhang-Zhung. Este teria sido anterior ao manuscrito de dbus-med, agora usado diversas vezes para compor os manuscritos tibetanos, especialmente entre os Bonpos. Posteriormente, os Bonpos sofreram 2 perseguições no Tibet Central, a primeira sob o reinado do oitavo rei do Tibet, Trisong Detsan, no século VIII de nossa era. De acordo com a tradição, em ambas as ocasiões, os sábios Bonpos perseguidos, esconderam seus livros em vários lugares do Tibet e regiões adjacentes, algumas como Bhutan. Esses textos foram redescobertos no início do século X. Assim, eles são conhecidos como os "Tesouros Ocultos" (gter-ma) (3). Alguns outros textos nunca foram ocultados, mas permaneceram em circulação e passaram através do século VIII, numa linhagem contínua. São conhecidos como snyan-rgyud, literalmente, "transmissão oral", tanto que eles costumam dizer ter existido como textos escritos, mesmo nos períodos iniciais. Um exemplo de tradição oral é o Zhan-Zhung snyan-rgyud, no qual, no século VIII, o Mestre Tapihritsa deu permissão ao seu discípulo Gyerpungpa de transcrever nessa forma as suas instruções orais secretas (man-ngag, Skt upadesha). Ou então, os textos foram ditados durante as visões de êxtase ou estados alterados de consciência, por certos sábios antigos ou certas deidades, aos Lamas que viveram nos séculos anteriores. Um exemplo disso foi a famosa Hagiografia de Tonpa Shenrab, conhecida como gZi-brjid, ditada a Lodan Nyingpo (bl.o-ldan snying-po, b. 1360), por certos espíritos das montanhas. Essa classificação é mais propriamente similar à classificação Nyingmapa das escrituras dentro do bKa-ma e do gter-ma. Essa forma floresceu no Tibet Central e Ocidental, e continua até nossos dias. Os ensinamentos do Bon revelados por Tonpa Shenrab são classificados diferentemente em 3 Hagiografias tradicionais, relatadas de sua vida. No geral, Tonpa Shenrab tinha dito ter explicado o Bon em 3 ciclos de ensinamentos.
I - Os 9 Sucessivos Veículos de Iluminação (theg-pa rim dgu)
II - Os 4 Portais do Bon e o quinto, no qual está o Tesouro (sgo bzhi mdzod lnga)
III - Os 3 Ciclos de Preceitos que são: o Exterior, o Interior e o Secreto (bKa phyi nang gsang sKor gsum).

Esses Nove Caminhos ou Nove Veículos Sucessivos de Iluminação são delineados de acordo com 3 sistemas diferentes, dos textos ocultos (gter-ma), que foram escondidos durante as primeiras perseguições do Bon, e foram descobertos nos séculos seguintes. Esses sistemas são designados de acordo com a localização onde os textos foram encontrados.
1. O Sistema dos Tesouros do Sul (lho gter lugs): esses eram os textos achados em Drigtsam Thakar (brig-mtsham mtha dKar), ao sul do Tibet e em Paro (spa-gro), em Bhutan. Aqui, os Nove Caminhos são primeiramente divididos nos 4 Caminhos Causais, nos quais contém muitos mitos e rituais mágicos xamânicos, e que são, principalmente, relativos aos trabalhos com energias para benefícios mundiais. Depois, existem os 5 Caminhos espirituais superiores, conhecidos como Caminhos Frutificantes. Aqui, o propósito não é obter poder ou assegurar saúde e prosperidade neste mundo, mas realizar a última meta espiritual da liberação da experiência de sofrimento nos ciclos de renascimento, dentro de Samsara. O último veículo encontrado aqui, nesta nona classificação, é o Dzogchen (4).
2. O Sistema dos Tesouros Centrais (dbus gter lugs). Esses textos foram redescobertos em vários lugares do Tibet Central, incluindo o grande Monastério Budista de Samye. Geralmente, essa classificação dos ensinamentos Bonpos é quase similar ao Sistema dos Nove Veículos encontrados nas tradições da escola Nyingmapa, do Budismo Tibetano. Alguns desses textos Bonpos falam que teriam sido trazidos da Índia ao Tibet, pelo grande tradutor tibetano Vairochana de Pagor, que traduziu trabalhos tanto do Budismo quanto das tradições Bonpos (5).
3. O Sistema dos Tesouros do Norte (byang gter lugs): esses textos foram redescobertos em várias localidades, ao norte do Tibet Central. Porém, segundo Lopon Tenzin Namdak, esse sistema não é muito conhecido. Os 4 Portais do Bon e o tesouro, no qual está o quinto (bon sgo bzhi mdzod lnga), representa outro, e provavelmente independente, sistema para classificação dos ensinamentos Bonpos, dentro de 4 grupos conhecidos como os 4 Portais (sgo bzhi), junto com um apêndice, conhecido como Tesouro (mdzod). Esses grupos ou classes de ensinamentos são:
1. O Bon das "Águas Brancas", contendo os Mantras Ferozes (chab dKar drag-po sngags Kyi bon): essa coletânea consiste em práticas tântricas esotéricas, focada na recitação colérica ou Mantras Ameaçadores associado a várias deidades meditativas. Dentro dessa classe estão incluídos o Ciclo Chyipung ou "Coletânea Geral" (spyi-spungs sKor), que fala de práticas associadas ao Tantra Pai (pha rgyud). (6)
2. O Bon das "Águas Negras", para a continuidade da Existência (chab nag srid-pa rgyud Kyi bon): essa coletânea consiste em vários rituais mágicos, ritos funerários, ritos de redenção, práticas divinatórias, e necessário ao processo de purificação e neutralização das energias negativas. Essa coletânea correponderia amplamente aos 4 Caminhos Causais, descritos acima. Aqui, o termo "negro" não refere-se à intenção do praticante, mas à expulsão da negatividade, na qual o preto simboliza.
3. O Bon do Extensivo Prajnaparamita do País de Phanyul (phan-yul rgyas-pa bum gyi bon): essa coletânea consiste nos preceitos morais, regras e ensinamentos éticos, tanto para os monges quanto para as pessoas que iriam se ordenar. Particularmente, o foco está nos sistemas éticos e filosóficos dos Sutras Prajnaparamita, no qual está preservado, na visão Bonpo, em 16 volumes conhecidos como Khamschen. Essa coleção basicamente representa o sistema Sutra, ao passo que o Chab dKar representa o sistema Tantra. (7)
4. O Bon das Escrituras e das Instruções Secretas Orais dos Mestres (dpon-gsas man-ngag lung gi bon): essa coletânea contem as instruções orais (man-ngag) e as escrituras manuscritas (lung) de vários Mestres (dpon-gsas), pertencentes as linhagens de transmissão para o Dzogchen.
5. O Bon dos Tesouros, no qual está a mais elevada pureza e está tudo incluído (gtsang mtho-thog spyi-rgyud mdzod Kyi bon): esta coletânea contém o material essencial de todos os 4 Portais do Bon. O Tesouro, no qual está o quinto (mdzod lnga), é descrito no gZer-myug. "Como a mais sublime pureza (gtsang mtho-thog ), estende-se a todos os lugares. Como introspecção, pertence ao Bon que é Universal (spyi-geod). Purifica o fluxo da consciência em relação à todos os 4 Portais".

Os 3 Ciclos de Preceitos, Exteriores, Interiores e Secretos (bKa phyi nang gsang sKor gsum) são:
a) O Ciclo Externo (phyi sKor): contém o sistema Sutra de ensinamentos (mdo-lugs), referente ao Caminho da Renúncia (spong lam).
b) O Ciclo Interno (nang sKor): contém o sistema Tantra de ensinamentos (rgyud-lugs), referente ao Caminho da Transformação (sgyur lam), de outra forma conhecido como os Mantras Secretos (gsang sngags).
c) O Ciclo Secreto (gsang sKor): contém os ensinamentos Upadesha (man-ngag), relativo ao Caminho da Auto-Liberação (grol lam), também conhecido como Dzogchen, a Grande Perfeição.

3. Novo Bon (bon gsar-ma): surgido desde o século XIV, apoiando-se nas descobertas de diferentes sistemas Terma mais superiores. Como um todo, esse sistema é quase igual ao Nyingmapa e, aqui Padmasambhava é também reconhecido como uma importante figura. Contudo, alguns Tertons, como Dorje Lingpa, descobriram tanto o Nyingmapa quanto o Bonpo Termas. No texto, tal como o Bon-Khrid, redescoberto por Tsewang Gyalpo, é afirmado que Padmasambhava foi a Uddiyana e recebeu os ensinamentos Dzogchen diretamente de Sambhogakaya Shenlha Odkar (gShen-lha od-dKar). Depois ele transmitiu esses ensinamentos no Tibet, disfarçando muitos deles como Termas, para o uso das futuras gerações de Bonpos. Também de acordo com Shardza Rinpoche, o Movimento Novo Bonpo iniciou no século XIV e continua até hoje. Os Termas revelados a alguns Mestres, como Lodan Nyingpo Mizhik Dorje (também conhecido como Dorje Lingpa), Kundrol Dragpa, Dechen Lingpa, Sang-ngag Lingpa, Khandro Dechen Wangmo, são todos considerados Tersar (gter-gsar) ou textos valiosos recém-descobertos. O Novo Bon floresceu, sobretudo, no Tibet Oriental.

** Notas do Capítulo: **

(1) Isso não significa que Dalai Lama considera os Bonpos como sendo Budistas. De acordo com muitos Lamas Tibetanos, os Budistas seguem o chos e os Bonpos seguem o bon. Entretanto, tanto os Budistas (chos-pa), quanto os Bonpos são considerados "Internos" (nang-pa), contrários aos "Externos" ou não-budistas (phyia-pa), como os hindus, jainistas, islâmicos e cristãos.
(2) Por exemplo, veja o Grub-mtha legs bshads shel Kyi mi-long de Chos Kyi nyi-ma dpal bzang-po (1674-1740). Essa seção do texto está de acordo com o fato do Bon ter sido trazido por Sarit Chendra Das, em Contribuições nas Religiões e História do Tibet. O autor, um estudante Gelupga, distinguiu 3 fases mo desenvolvimento do Bon: jol bon, Khyar bon e bsgyur bon. Contudo, não é assim que os Bonpos vêem sua própria história. O texto é útil para indicar como as outras escolas Buditas o viam. O relato encontrado aqui, pode ser assim resumido:
a) O Bon Revelado (jol bon): durante o reinado do sexto Rei do Tibet, Tride Tsanpo (Khri-lde btsan-po), um demônio ou espírito malígno (dre), raptou um menino de 13 anos, que pertencia ao clã Shen (gshen) e o levou a diferentes lugares perigosos, nas montanhas do Tibet e Kham. Outros relatos acrescentam o detalhe que esse menino de 13 anos foi descoberto por ter orelhas de asno, aparentemente de nascimento, onde os espíritos malígnos sumiram com ele. Por 13 anos seguintes, esse menino perambulou por lugares ermos e veio a ser totalmente instruído nas artes mágicas dos espíritos não-humanos (mi ma Yin). Aos 26 anos, ele foi permitido a retornar à sua aldeia natal. Devido a essa viagem à Outros Mundos e ao Conhecimento que adquiriu desse modo, ele sabia os nomes e os esconderijos de todos os espíritos e demônios. Ele sabia quais os espíritos que causavam problemas entre os humanos e quais os espíritos que traziam boa sorte e prosperidade. E ele sabia como acalmar espíritos hostis, com rituais e oferendas. Assim, esse jovem foi o primeiro a introduzir o Bon entre os Tibetanos e, à frente de seu tempo, os reis do Tibet seguiram ao Bon e à nenhuma outra religião. Além disso, é dito que, quando ele retornou à sua aldeia, escondeu suas orelhas de asno com um turbante de lã, sendo esta a razão que o turbante branco veio a ser o mecanismo distintivo do Bonpo antigo. Isso traduzia que esses primeiros Bonpos, abaixo (og) subjulgavam os espíritos malígnos, acima (steng) invocavam os deuses e seus ancestrais, e na parte intermediária (bar) purificavam o lar quando tornava-se carregado, ofendendo a divindade do lar (thab lha) e outros espíritos domésticos. Esse relato é um cenário típico da iniciação xamânica, estando relacionado as viagens do xamanismo no Tibet.
b) O Bon Desvirtuado (Khyarbon): Representa inovações feitas devido às influências externas no Tibet de outros lugares. Quando o rei do Tibet, Drigum Tsanpo (Gri-gum btsan-po), foi morto devido as suas perseguições aos Bonpos, fez-se necessário prevenir que o espírito do rei assassino, que tornara-se um ghin ou fantasma, não causasse danos entre as pessoas. Consequentemente, 3 praticantes Bonpos foram convidados da Cachemira (Kha-che), Gilgit (Bru-sha) e de Zhang-Zhung, respectivamente, para realizar os ritos funerários apropriados, mandando o espírito descansar. Isso aconteceu porque os sacerdotes locais não sabiam como fazer. Alguns ritos são conhecidos como Dur. Esses 3 Bonpos eram estrangeiros de países ao oeste do Tibet. Um deles, possivelmente o de Zhang-Zhung, ofereceu sacrifícios às divindades Gekhod (o Patrono de Zhan-Zhung), Khyund (Garuda) e Me-lha (o deus do fogo). Com isso, ele foi capaz de voar através do céu, no seu tambor e divino depósito de mineral e metal escondidos debaixo da terra. O segundo Bonpo, provavelmente de Gilgit, era habilidoso nas artes divinatórias e pôde modificar o futuro pelo significado de nós e cordas, uma prática conhecida como ju-thig, e o uso de ossos (sog dmar). Mais ainda, ele fez inspiradas entonações oraculares (lha bKa). Isso surgiria para localizar a origem desse método divinatório em Gilgit. O terceiro Bonpo da Cachemira, a terra famosa por seus ensinamentos tântricos entre os Budistas e os Shaivistas, era perito em conduzir as cerimônias funerárias. Previamente, não tinha existido a filosofia do Bon no Tibet, mas agora o Bon tornava-se uma mistura das doutrinas Shaivistas dos Tirthikas (hindus da Cachemira), e por isso tornou-se conhecido como o Bon Desvirtuado (mu-stegs dbang-phyug-pai grub-mtha Khyar-ba bon).

3. Bon Transformado (bsgyur bon): Ocorreu em 3 fases.
Primeiro, um Pandita Indiano, tendo caluniado um famoso mestre Budista e sendo dirigido por atos imorais, foi expulso de Sangha ou a Comunidade Monástica dos Robes Azuis (sham-thabs sngon-po-can), e proclamou-se um grande Mestre. Lá, ele escreveu vários livros hereges e os escondeu. Após alguns anos, convidou o público a testemunhar a descoberta desses textos que havia escondido previamente. Ele proclamou que seriam escrituras sagradas do Bon, e, com isso, trouxe a transformação para a religião Bon.
Segundo, durante o reinado do grande rei Budista do Tibet, Trisong Detsan, foi emitido um decreto exigindo que todos os Bonpos renunciassem ao Bon e aceitassem a crença Budista da Índia. Um Bonpo chamado Rinchenchok (Rin-chen mchog) recusou-se a fazer isso e foi punido pelo rei por sua obstinação. Ele ficou muito furioso e, por causa disso, Rinchenchok e outros sacerdotes Bonpos compuseram as escrituras Bonpos praticamente plagiando completamente os Budistas. Quando o rei soube disso, Rinchenchok foi insultado e teve seus sacerdotes decapitados. Todavia, alguns conspiradores sobreviveram e esconderam cópias desses textos sob rochas, em vários lugares. Mais tarde, esses sacerdotes redescobriram os textos e tornaram-se os Bonpos Termas. Terceiro, depois da inundação e morte do rei Tibetano Lang darma, no século IX, alguns sacerdotes Bonpos continuaram a alternar outros textos Budistas, usando diferentes ortografias e terminologias. No Tsang Superior, 2 deles, Shengur Luga (gSen rgur Klu-dga) e Daryul Drolag (Dar-yul sgro-lug), compuseram mais textos e os esconderam sob as rochas. Com isso, converteram muitas escrituras Budistas em textos Bonpos, assim como transformando o extenso Prajnapamarita (Yum rgyas) nos Kham-chen, a versão Bonpo do Prajnapamarita . Posteriormente, eles tiveram uma atitude de aparente surpresa pelas descobertas. Esses textos ficaram conhecidos como as "Águas Brancas" (Chab dKar) e o Bon Frutificador (bras-bui bon). A tônica deste relato é mais propriamente anti-bon, e isso pode ser contrastado com os relatos dos próprios Bonpos sobre a origem e o desenvolvimento de suas tradições, como os achados no Lengs-bshad mdzod, de Shardza Rinpoche.

(3) De acordo com os tradicionais relatos encontrados em gZer-myig e gZi-brjid, o príncipe demônio e feiticeiro Khyabpa Lagring (bDud-rgyal Khyab-pa-lag-ring), roubou os 7 cavalos de Tonpa, de seu estábulo em Ol-mo lung-ring, e depois de afugentá-los, escondeu-os em Kongpo, um país ao sudoeste do Tibet. Tonpa Shenrab encarou isso como uma oportunidade para viajar ao Tibet, visando subjulgar os demônios (srin-po), que, na época, habitava o país e oprimia a humanidade primitiva.

(4) Na tradução Bonpo Terma, veja Samten Karmay, o Tesouro dos Bons Discursos, op cit. Todas as recentes descobertas Termas dos Bonpos foram sa-gter, que são os atuais textos físicos escritos em épocas anteriores e escondidos em vários lugares, do Tibet e Bhutan. Muitas das atuais descobertas dessas coleções de Termas não foram estudadas pelos Lamas, mas por simples fazendeiros e caçadores, que não poderiam ter possivelmente inventado esses textos. Entre os mais famosos desses recentes "Tertons" estão 3 ladrões Nepali, conhecidos como os 3 Atsaras, que no ano 961 EC roubaram um pesado baú fechado do templo Cha-ti dmar-po, no Monastério Samye. Fugindo para as montanhas com sua pilhagem, pensando que continha ouro, eles abriram o baú e encontraram somente velhos textos. Muito desapontados, eles venderam esses velhos livros a alguns Lamas Bonpos da localidade, por ouro e cavalos.

(5) Os Nove Caminhos do Bon, ou melhor, os Nove Veículos Sucessivos do Bon (bon theg-pa rim dgu), como classificado no Sistema de Tesouros do Sul (lho gter lugs), é explicado em vários capítulos do gZir-brjid, a Hagiografia mais extensa de Tonpa Shenrab. Esses capítulos têm sido traduzidos por Snellgrove, com a supervisão de Lopon Tenzin Namdak. Veja David Snellgrove, Os Nove Caminhos do Bon, Oxford University Press, London 1967. Aqui, os Nove Caminhos são descritos dessa forma:
a) O Caminho da Prática da Predição (phywa ashen theg-pa): literalmente "theg-pa" significa um veículo ou transporte, mais propriamente que estrada ou caminho. "gShen", uma palavra de origem e significado obscuro, poderia aqui ser traduzida como "prática" ou "praticante", de acordo com Lopon. E o termo
"phywa", significa predição ou prognóstico. Esse caminho ou veículo é principalmente relacionado com a divinação (mo), cálculos astrológicos ou geomânticos (rtsis), diagnóstico médico (dpyad) e prática de rituais de cura (gto).
b) O Caminho da Prática de Manifestações Visíveis (snang gshen theg-pa): esse caminho é principelmente relacionado com as manifestações visíveis (snang-ba), vistas como manifestações positivas das atividades dos deuses (lha), que vêm em auxílio da humanidade. Consequentemente, a ênfase é dada em invocar os deuses (lha gsol-ba) em seus auxílios. Inclui muitas classes de deidades como o Thugs-dKar, o sGra-bla, o Wer-ma, etc.
c) O Caminho da Prática do Poder Mágico (phrul gshen theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com rituais mágicos para assegurar prosperidade e controle sobre os espíritos invocados, especialmente os ritos de exorcismo (sel-ba), para eliminar energias negativas e provocações negativas de espíritos malígnos (gdon), que vêm perturbar a existência humana. O praticante trabalha com essas energias em termos de invocações, conjurações e aplicações (bsnyen sgrub las gsum).
d) O Caminho da Prática da Existência (srid gshen theg-pa). Aqui, "existência" (srid-pa) significa propriamente o processo de morte e renascimento. Esse caminho é também conhecido como Dur ghen, a prática de cerimônias para exorcizar (dur) os espíritos da morte que estão perturbando os vivos. É, por isso, principalmente relacionado aos 360 tipos de ritos realizados, tanto quanto aos métodos para garantir a boa fortuna e a longevidade. Esses 4 representam os Quatro Caminhos Causais do Bon (bon rgyu'i theg-pa bzhi). São seguidos pelos caminhos superiores de uma natureza mais espiritual, cuja meta é a liberação e a iluminação, no qual são conjuntamente conhecidos como os Caminhos Realizadores (bras-bu'i theg-pa).
e) O Caminho dos Praticantes Leigos Virtuosos (dge-bsnyen theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com a moralidade e ética, tal como as Dez Ações Virtuosas (dge-ba beu), as Dez Perfeições ou Paramitas, etc, tanto quanto as atividades devotas, como erguer stupas, etc.
f) O Caminho dos Sábios Ascetas (drang-srong theg-pa): o termo drang-srong (em sânscrito "rishi" **), significando um sábio, tem aqui o sentido técnico de um monge completamente ordenado que tem feito todos os complementos dos votos, correspondendo ao bhikshu Budista (dse-slong). A referência principal é com os votos dos monges e as regras da disciplina monástica (dul-ba).
g) O Caminho do Branco A (A-dkar theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com a prática tântrica da transformação, pelo meio de visualizar alguém como a meditação da divindade e as práticas associadas com a Mandala. Aqui estão incluídos os Tantras Inferiores e Superiores.
h) O Caminho do Shen Primordial (ye gshen theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com certas práticas tântricas secretas, incluindo o próprio relacionamento com o Guru e com a consorte Tântrica, tanto quanto com as metodologias do Processo de Geração (bskyed-rim) e o processo de Perfeição (rdzogs-rim) e com a conduta ligada a eles.
i) O Caminho Final (bla-med theg-pa): esse último (bla na med-pa) caminho é o encerramento dos ensinamentos e práticas do Dzogchen, a Grande Perfeição, na qual descreve o processo de Iluminação em relação a Base, ao caminho, e aos Frutos, tanto quanto as práticas de contemplação em termos da concepção das meditações e da conduta.

(6) Os Nove Caminhos, de acordo com o Sistema dos Tesouros Centrais (dbus gter lugs), também são divididos nos Veículos Causais (rgyu'i theg-pa) e nos Veículos Frutificadores (bras-bu'i theg-pa). São eles:
a) O Veículo dos Deuses e Homens, onde um confia no outro (lha mi gzhan rten gyi theg-pa): é dito que este é o veículo daqueles discípulos que primeiro têm que ouvir os ensinamentos dos outros. Esse veículo corresponde ao Shravakayana no Sistema Budista e a concepção filosófica é a dos Vaibhashikas.
b) O Veículo dos Shenrabpas, que compreendem sozinhos (rang-rtogs gshen-rab kyi theg-pa): esses praticantes não necessitam ouvir os primeiros ensinamentos de outros, mas os descobrem por eles mesmos. Esse veículo corresponde ao Pratyekabuddhayana dos Budistas e as concepções filosóficas dos Sautrantikas.
c) O Veículo dos Bodhisattvas Compassivos (thugs-rje sems-pa'i theg-pa): esse veículo corresponde ao Sistema Sutra Mahayana ou ao Veículo Bodhisattvayana no Sistema Budista. Em particular, a referência é aos Bodhisattvas que praticam os Dez Paramitas da generosidade, moralidade, paciência, vigor, meditação, força, compaixão, confiança, meios hábeis e sabedoria. A concepção filosófica é a dos Yogacharins ou Chittamatrins (sems-tsam-pa), que distinguem a ausência de qualquer existência inerente ao Eu interior, tanto quanto aos fenômenos externos.
(continua)

**Acréscimo Meu: Rishi, em sânscrito, significa uma espécie de sábio antigo que via os Hinos (mantras) dos Vedas. Também é chamado de Muni, que significa sábio ou aquele que pratica o silêncio (mauna).

d) O Veículo dos Bodhisattvas são elaborações conceituais externas (g.yung-drung sems-pa'i spros med-pa'i theg-pa): esse veículo também corresponde ao Bodhisattvayana no Sistema Budista. O termo Bonpo g.yung-drung sems-dpa, literalmente Svastikasattva ou o "princípio Swastica", tem o mesmo significado que o termo Budista Bodhisattva (byang-chub sems-dpa). Aqui encontra-se a mesma prática dos Dez Paramitas. Contudo, o ponto de vista filosófico, do Vazio e da Ausência de qualquer existência inerente ao self interior e ao mundo fenomenológico externo, é compreendido pela via de Madhyamaka (dbu-ma-pa), mais que de Chittamatra. Esses 4 caminhos inferiores representam os Caminhos Causais (rgyu'i theg-pa), enquanto aqueles que os sucedem são conhecidos como os Veículos Frutificadores.
e) O Veículo do Bon Primordial da Conduta Pura e Atividade Ritual (bya-ba gtsang-spyod ye bon gyi theg-pa): focado na atividade ritual (bya-ba, em sânscrito Kriyâ **) e pureza da conduta, esse veículo corresponde ao Kriyatantrayana no Sistema Nyingmapa. Em relação aos métodos, o Princípio da Sabedoria (ye-shes-pa) é invocado até o alcance da visão da pessoa e tratado como um princípio soberano, requerido por um servo submisso e, desse modo, o praticante recebe o Conhecimento (ye-shes) e as bençãos (byin-rlabs) da divindade.
f) O Veículo do Conhecimento Clarividente que processa todos os aspectos (rnam-pa kun-ldan mngon-shes kyi theg-pa): o foco é igualmente na ação do ritual externo e na prática do yoga interno. Esse veículo corresponde ao Charyatantrayana, no Sistema Nyingmapa. Juntamente com a prática dos Dez Paramitas e as Quatro Recordações, a presença do Princípio da Sabedoria é invocado, mas nesse momento a deidade é reguardada como um amigo íntimo mais que como um soberano supremo. Esses 2 veículos representam os Tantras Inferiores ou Externos (phyi rgyud), enquanto os veículos que seguem representam os Tantras Superiores ou Internos (nang rgyud).
g) O Veículo da Compaixão Manifesta Visível correspondendo ao Atual Processo de Geração (dngos bskyed thugs-rje rol-pa'i theg-pa): esse veículo corresponde ao Tantra Yoga e a certas extensões do Tantra Mahayoga e do Tantra Anuttara, no Sistema Budista de classificação, tanto para os Nyingmapas quanto para as Escolas mais recentes.. Alguém estabelecendo-se na elevada concepção da Verdade Final e permanecendo na condição original do Estado Natural, engaja-se no Processo de Geração (bskyed-rim) e transforma-se na divindade da meditação, dessa forma realizando as qualidades atribuídas àquela manifestação de consciência iluminada.
h) O Veículo no qual Tudo é Completamente Perfeito e Excessivamente Significativo (shin tu don-ldan kun rdzogs kyi theg-pa): tendo se estabelecido na Verdade Final e na condição original do Estado Natural, como foi no caso acima, aqui a pessoa dá ênfase ao Processo de Perfeição (rdzogs-rim) mais que ao Processo de Geração (bskyed-rim), então o Espaço e a Percepção são realizados para serem inseparáveis (dbyings rig dbyer-med). E, particularmente, relacionado à divindade da meditação, o praticante vem a realizar a gnosis ou a Consciência Primitiva da inseparabilidade da felicidade e do vazio (bde stong ye-shes). Esse veículo corresponde ao Tantra Mahayoga e especialmente à classificação do Tantra Anuyoga dos Nyingmapas.
i) O Insuperável Veículo do Cume Mais Elevado da Grande Perfeição Primordial (ye nas rdzogs-chen yang-rtse bla-med kyi theg-pa): esse veículo inclui os Ensinamentos Dzogchen, no sentido das Séries Mentais (sems-sde), nas quais enfatizam o lado da percepção do Estado Natural, e as Séries Espaciais (klong-sde) que enfatizam o lado do Vazio, assim como as Séries de Instruções Secretas que dão ênfase às suas inseparabilidades.
(continua)

** Acréscimo meu ao texto: Kriyâ, em sânscrito, significa ação, ritual. É um dos principais aspectos da prática do Tantrismo. O Kriyâ Yoga, ou "Yoga da Ação" é o nome que Patanjali deu à prática concomitante da ascese (tapas), do estudo (svâdhyâna) e da devoção à divindade (îshvara-pranidhâna).

(7) De acordo com Lopon Tenzin Namdak, as traduções dos termos técnicos chab dkar como "águas brancas" e chab nag como "águas negras", são problemáticas. Realmente, chab significa "água" em Tibetano, mas a palavra poderia originalmente ter sido um termo Zhang-Zhung e tido um diferente e, agora, esquecido sentido. No antigo costume Bonpo, os termos "branco" (dKar) e "negro" (nag) não tiveram as conotações morais que tiveram no inglês, tais como "magia branca" feita para bons propósitos e "magia negra" feita com objetivos maléficos. Nesse contexto, o branco refere-se ao fato de invocar o auxílio dos deuses e espíritos, puxando a energia positiva para alguém, enquanto o preto refere-se ao exorcismo e expulsão das energias negativas, percebidas como um processo de purificação. As energias negativas exorcizadas são sentidas a parecer pretas na cor, mas a intenção aqui é positiva, a purificação.

(8) De acordo com Karmay, o nome Ohan-yul designa o distrito de Phan-yul ao norte de Lhasa. Pode ter sido o local onde a tradução Bonpo do Prajnaparamita foi feita, no período primitivo, posteriormente ocultada em uma região diferente e redescoberta, mais tarde, por gShen-chen Klu-dga, no século XI. Porém, o Lopon disputa essa teoria e assegura que phan-yul foi provavelmente uma palavra Zhang-Zhung, cujo significado tem sido esquecido. O termo Tibetano "bum", significando literalmente "100.000", é a designação usual, na tradição Budista, para a coleção completa dos Sutras Prajnaparamita, o mais extenso, o qual é composto de 100.000 versos.

As Origens do Dzogchen

Justo no caso dos Nyingmapas, que estão entre os Budistas Tibetanos, a tradição Bonpo tem como seus mais elevados ensinamentos o sistema de contemplação, conhecido como Dzogchen, "A Grande Perfeição" (rdogs-pa chen-po). Esses ensinamentos revelam, na experiência imediata de alguém, o estado Primordial (ye gzhi), que é dito, a inererente natureza de Buddha no indivíduo ou Bodhicitta, o qual está além de todo o tempo, condicionamento e limitações conceituais. Esse Estado Natural (gnas-lugs) é falado em termos de sua pureza primordial intrínseca (Ka-dag) e sua perfeição espontânea em manifestação (lhun-grub). Tanto os Budistas Nyingmapas quanto os Bonpos asseguram que suas respectivas tradições Dzogchen foram levadas ao Tibet Central, no século VIII, a transmissão Nyingmapa de Mahasiddha Shrisimba, vivendo no norte da Índia, e a tradição Bonpo da linha dos Mahasiddhas, habitando ao redor do Monte Kailas e do país de Zhang-Zhung, ao oeste e norte do Tibet. Portanto, parace existir por lá 2 linhagens diferentes, historicamente autênticas, das transmissões desses ensinamentos.
Subsequentemente, a transmissão Nyingmapa dos preceitos do Dzogchen foi levada ao Tibet Central principalmente devido às atividades de 3 Mestres: o grande Mestre Tântrico Padmasambhava do país de Uddiyana, o Mahasiddha e Mahapandita Vimalamitra da Índia, e o tradutor tibetano nativo Vairochana de Pagon. De acordo com a tradição, o último veio originalmente de uma família Bonpo. Diz-se que ele e Vimalamitra foram responsáveis pelas primeiras traduções dos textos pertencentes ao Semde (sems-sde) ou "Séries Mentais" e o Longde (Klong-sde) ou "Séries Espaciais" dos Ensinamentos Dzogchen. Todavia, alguns estudantes, tanto Tibetanos quanto Ocidentais, discutem que Vairochana, na verdade, fez a maioria das traduções referindo-se à ele.

Além disso, alguns estudantes contemporâneos asseguram que os Tantras Dzogchen, os quais representam as pesquisas literárias para os ensinamentos do Dzogchen, eram praticados, na verdade, no século X, por certos desconhecidos Bonpos inescrupulosos e Lamas Nyingmapas que, nesse caso, anacronicamente, referiram-se às primitivas figuras santificadas como Padmasambhava e Tapihritsa, visando ganhar suas aprovações como escrituras autênticas. Eles, portanto, representam um tipo de Budista e Bonpo apócrifo e pseudo-epígrafe. Críticos modernos citam o fato de que, com exceção de 2 breves textos Dzogchen, o Rig-pa'i Khu-bying e o sBas-pa'i sgum-chung, os textos dos Tantras Dzogchen não têm sido achados na biblioteca de Tun Huang, na periferia da China Ocidental, os quais foram lacrados no século X. Mas, simplesmente, note que o fato desses textos não terem sido descobertos em Tun Huang, não prova que eles não existiram em algum lugar no tempo ou que eles devem ter sido compostos após o fechamento daquela biblioteca. Com base nas evidências em voga, e em vista da falta de uma análise completa de todos os textos em questão, pareceria que esta conclusão não estaria garantida. Esse fato tem sido assegurado, por alguns estudantes, que Padmasambhava, embora pudesse ter sido uma figura histórica real, certamente não ensinou o Dzogchen, mas somente o Sistema Tântrico de sGrub-pa bka brgyad, as práticas dos 8 Herukas ou a meditação das deidades furiosas. Esse sistema forma a Divisão Sadhana (sgrub-sde) do Tantra Mahayoga (1). Todavia, eminentes estudantes Lamas Nyingmapas, tais como o último Dudjom Rinpoche, respondem que apesar de Padmasambhava não ter ensinado o Dzogchen como um veículo independente de iluminação, ele, de fato, ensinou como um Upadesha (man-ngag), ou instrução oral secreta, ao seu círculo íntimo de discípulos tibetanos. Essa instrução particular refere-se à prática do Dzogchen e à interpretação das experiências resultante de sua prática de contemplação. No contexto do Sistema Tântrico Mahayoga, Dzogchen é a denominação para a fase mais elevada do processo tântrico de transformação, transcendendo tanto o Processo de Geração (bskyed-rim), quanto o Processo de Perfeição (rdzogs-rim). Nesse contexto, o Dzogchen corresponderia, em alguns meios, às práticas do Mahamudra no Sistema do Neo Tantra (rgyud gsar-ma), de outras escolas Tibetanas. Um texto antigo, o Man-ngag lta-ba'i, tradicionalmente atribuído a Padmasambhava, não trata o Dzogchen como um veículo independente (theg-pa, em sânscrito yana), mas somente como uma parte do Sistema dos Tantras Superiores. Quando ensinado como um veículo independente, a prática do Dzogchen não requer qualquer processo antecedente da transformação tântrica do praticante na divindade, e, mais ainda, antes de penetrar no estado de contemplação equilibrada (mnyam-bzhag) (2). Portanto, isso poderia parecer que, pelo menos de acordo com a tradiçãoNyingmapa, o Dzogchen foi originado como um Upadesha, que elucidava um estado de contemplação ou consciência intrínseca (rig-pa), que transcendeu sozinho o processo tântrico de transformação, ambos em termos da geração e da perfeição.
Por isso, tornou-se conhecido como a "Grande Perfeição", que é visto como o estado de perfeição total e conclusão, onde nada é necessário.

De acordo com a tradição Nyingmapa, os preceitos Dzogchen foram explicados, à priori, em nosso mundo humano, por Nirmanakaya Garab Dorje (dGa-rab rdo-rje, em sânscrito Prahevajra), no país de Uddiyana, e foram posteriormente difundidos na Índia por seu discípulo Manjushrimitra. Esse último o transmitiu a seu discípulo Shrisimba, quem, em resposta, outorgou-os a Padmasambhava, Vimalamitra e Vairochana, o tradutor. Esses 3 levaram os preceitos ao Tibet, na metade do século VIII. Contudo, esse ensinamento foi originalmente uma instrução oral secreta, restrita a um pequeno grupo de iniciados Tântricos. A tradição alega que ele originalmente veio do misterioso país de Uddiyana para o noroeste da Índia. De qualquer forma, ele apresenta-se muito parecido nas fronteiras Indo-Tibetanas do noroeste, onde deveríamos procurar pelas origens do Dzogchen (3). Isso parece igualmente verdadeiro para as origens históricas do Bonpo Dzogchen, para sua linhagem autêntica dos ensinamentos Dzogchen, que também não se originaram na Índia propriamente, mas foram levadas ao Tibet Central, nos séculos IX e X, de Zhang-Zhung ao Norte do Tibet, pelos discípulos descendentes de Gyerpung Nangzher Lodpo. Até o século VIII, o país de Zhang-Zhung tinha sido um reino independente, com sua própria linhagem e cultura. Está situado onde atualmente é o Tibet Ocidental e ao Norte. O centro do país foi denominado pela majestosa presença da montanha sagrada de Gangchen Tise ou Monte Kailas. Examinando a evidência disponível, isso agora apresenta-se parecido com o fato de que antes do Budismo Tibetano vir para o Tibet Central, nos séculos VII e VIII, o Zhang-Zhung tinha um contato extensivo com as culturas Budistas, que floresceram ao seu redor na Ásia Central e nas fronteiras Indo-Tibetanas. Exatamente no oeste de Zhang-Zhung existiu o vasto império Kushana, no qual foi Budista em sua cultura religiosa. Era uma área na qual os Budistas Indianos interagiam com várias linhas da religião Iraniana - Zoroastrianismo, Zurvanismo, Mitraísmo, Maniqueísmo, tão bem quanto com o Shaivismo Indiano e o Cristianismo Nestoriano. Isso também foi verdadeiro nas cidades oásis de Silk Route, ao nordeste de Zhang-Zhung, tais como Kashgar. Alguns estudantes têm visto essa região do outro lado da Índia como tendo um papel principal no desenvolvimento de certos aspectos do Budismo Mahayana, e depois também no desenvolvimento da forma Tântrica do Budismo, conhecida como Vajrayana. Por exemplo, a revelação do Tantra Guhyasamaja é dito ter ocorrido ao rei Indrabhuti, em Uddiyana, e foi levado depois à Índia propriamente pelos Mahasiddhas Saraha e Nagarjuna. Além disso, sobre o Tantra Kalachakra é dito ter sido levado de Shambhala, na Ásia central, a Nalanda na Índia, no século X, pelo Mahasiddha Tsilupa. Os Bonpos vieram a identificar este Shambhala com o próprio Olmo Lungring. Tudo isso sugere que certas linhas dentro do Bon Yungdrung, por mais que tenham sido, posteriormente, plágios e imitações do Budismo Indiano, forjados no século X, atualmente retornam como o sincrético Budismo Indo-Iraniano, que uma vez floresceu no independente reino de Zhang-Zhung, antes de ser forçosamente incorporado no expansivo império Tibetano, no século VIII. Esse "Budismo", conhecido como gyer na linguagem Zhang-Zhung e como Bon em Tibetano, não foi particularmente monástico, mas mais Tântrico em natureza e sua difusão foi estimulada pela presença de vários Mahasiddhas na região, tais como o ilustre Tapihritsa e seus sucessores, habitando em cavernas do Monte Kailas e nos lagos ao leste, no Tibet Central. Até mesmo nesse século, o Kailas permanece como um importante local de peregrinação, arrastando sadhus hindus e yogis da Índia.



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