sábado, 4 de novembro de 2017

Os Nove Caminhos do Bon




 Os nove caminhos do Bon-Po Dzogchen.


Reinaldo Ribeiro


Tonpa Shenrab - O Fundador do Bon

O fundador da religião Bon é o Lord Shenrab Miwo. No passado, existiam 3 irmãos: Dagpa, Salba e Shepa, que estudaram as doutrinas do Bon no céu chamado Sridpa Yesang, sob o sábio Bon Bumtri. Quando completaram seus estudos, eles visitaram o deus da Compaixão, Shenlha Odkar, e perguntaram a ele como poderiam ajudar os seres submersos na miséria e tristeza do sofrimento. Ele os aconselhou a agirem como guias para a humanidade, em 3 eras sucessivas do mundo.
Para seguir seu conselho, o irmão mais velho, Dagpa, completou seu trabalho na era passada. O segundo irmão, Salba, nomeou-se Shenrab e tornou-se o mestre e guia da era atual. O irmão mais novo, Shepa, tornar-se-á o mestre na próxima era do mundo.
Lord Shenrab nasceu no Palácio Barpo Sogye, ao sul do Monte Youngdong. Nasceu príncipe, casou-se jovem e teve filhos. Aos 31 anos, renunciou ao mundo e viveu em austeridade, ensinamento e doutrina. Durante toda a sua vida, seus esforços para propagar a religião do Bon foi obstruído pelo demônio Khyaba Lagring. Este demônio lutou para destruir ou impedir o trabalho de Tonpa Shenrab, até ele converter-se e tornar-se um discípulo.
Uma vez, perseguindo o demônio para recuperar seus cavalos roubados, Tonpa Shenrab chegou ao Tibet. Foi sua única visita ao Tibet. Lá, ele deu algumas instruções relativas à performance dos rituais, mas, no geral, achou a terra despreparada para receber todos os ensinamentos. Antes de deixar o Tibet, profetizou que todos os seus ensinamentos floresceriam lá, quando houvesse amadurecimento. Tonpa Shenrab morreu aos 82 anos. Existem 3 relatos de Tonpa Shenrab. O primeiro (século X), e mais breve, é conhecido como Dodu (mdo-dus), Epítome do Aforismo. O segundo (século XI), em 2 volumes, é chamado Zermik (gzermig), Olhos Penetrantes. O terceiro e mais extenso, está em 12 volumes conhecidos simplesmente como Zhiji (gZhi-brikid), O Glorioso. Pertence à categoria de escrituras conhecidas como "transmissões “espirituais” (bsNyan-rgyud). Acredita-se ter sido ditado a Loden Nyingpo, que viveu no século XIV.

As Tradições do Bonpo de Dzogchen

As Tradições do Bonpo e Nyingmapa de Dzogchen

No geral, os ensinamentos de Dzogchen são encontrados somente nas escolas tradicionais tibetanas do budismo Nyingmapa e dos bonpos não-budistas. Em ambos os casos, esses ensinamentos são essencialmente os mesmos em significados e terminologias, e ambas as tradições alegam ter uma linhagem tradicional, conservada até hoje, desde o século VIII, e até mesmo antes disso. Ambas as escolas afirmam que o Dzogchen não se originou no Tibet, mas tiveram uma origem na Ásia Central e foram, consequentemente, trazidos ao Tibet Central por certos mestres, como Mahasiddhas, ou grandes adeptos. Lá, portanto, parecia existir 2 antigas e autênticas linhagens para os ensinamentos Dzogchen, o Budismo e o Bonpo. Como eu havia discutido previamente sobre a tradição Budista Nyingmapa da origem do Dzogchen, em meu livro "As Cartas de Ouro", aqui pretendo apresentar uma visão geral preliminar da tradição Bonpo de Dzogchen, conhecido como Zhang-Zhung Nyangyund. Essa tradição Bonpo é especialmente importante para investigar, dentro das origens históricas do Dzogchen, porque alega representar a contínua tradição oral (snyan-rgyud), desde os primórdios vindos do Zhang-Zhung, no Tibet Ocidental.
Embora algumas histórias tibetanas, medievais e modernas, tivessem sido escritas por monges budistas claustros, retratam a antiga religião pré-budista do Tibet, chamada Bon, uma nefasta mistura de feitiçaria, magia negra, xamanismo e sacrifícios de sangue, surgindo para ser justamente uma propaganda anti-bonpo, conferindo um efeito melodramático. O principal objetivo desses historiadores budistas foi enaltecer a função do Budismo Indiano Mahayana, na história do Tibet, sugerindo que não havia nem cultura ou civilização, antes do advento do Budismo Indiano ao Tibet Central, no século VII da nossa era. A Índia, a terra natal de Lord Shakyamuni Buddha, foi considerada, não somente como a origem da
genuína religião e espiritualidade, mas como a origem da cultura civilizada em geral. Até mesmo a linhagem dos reis tibetanos foi reportada às origens indianas, por alguns historiadores nativos, como Go Lotsawa, Buton e outros. Outro problema é que o termo tibetano "bon", provavelmente deriva da antiga
forma verbal "bon-pa", significando "evocar os deuses", e tem 2 referências culturais diferentes. Na primeira, o Bon realmente refere-se ao pré-budismo indígena xamânico e à cultura anímica do Tibet, uma cultura que possui várias características em comum com outras culturas tribais xamânicas da Ásia Central e Sibéria. Contudo, essas envolvem vários tipos de práticas religiosas e crenças. A função central era ocupada pelo praticante, conhecido como Xamã.
A atividade do Xamã era definitivamente caracterizada como entrando em estados alterados de consciência por meio de cânticos, tambores, danças e, de qualquer forma, este estado alterado de consciência ou "êxtase" era entendido como a "viagem da alma", como uma experiência fora do corpo, ou uma forma de possessão por espíritos. A sua principal função social era a de curandeiro. Uma forma
tradicional xamânica da Ásia Central, envolvendo a possessão por espíritos, continua a ser praticada largamente no Tibet até hoje, tanto entre a população budista quanto à do Bonpo, assim como entre os refugiados tibetanos que vivem em outras partes de Ladakh, Nepal e Bhutan. Alguns praticantes são conhecidos como "lha-pa ou dpa-bo". Em outra região, nas periferias do Tibet, no Himalaia e ao longo das fronteiras Sino-Tibetanas, dentre certos relatos de oradores tibetanos, existem xamãs conhecidos como bonpos, como por exemplo entre os Na-Khi na China e entre os Tamangs, no Nepal.
Mas existe um segundo tipo de cultura religiosa, conhecida como "Bon", cujos adeptos alegam representar a cultura pré-budista do Tibet. Esses praticantes do Bon afirmam que, pelo menos parte de sua tradição religiosa não foi originária do Tibet, mas foi trazida do Tibet Central, em algum momento antes do século VII, do previamente independente país de Zhang-Zhung, oeste do Tibet, e mais remotamente de Tazik (stag-gzig), ou por oradores iranianos da Ásia Central, ao noroeste. Essa forma do Bon é conhecida também como Yungdrung Bon (gyung-drung bon), o "Ensinamento Eterno", um termo que poderia ser reconstruído em sânscrito como "Svastika-Dharma", onde a svástika ou a cruz solar é o símbolo de eternidade e indestrutibilidade, correspondendo em amplo sentido ao termo budista vajra ou diamante (rdo-rje). Complementando os relatos dos textos ritualísticos das práticas xamânicas e anímicas, a antiga tradição possui uma vasta coletânea de textos, também alegando serem pré-budistas na origem, relatando os altos ensinamentos do Sutra, Tantra e Dzogchen (mdo rgyud man-ngag gsum). Os Lamas Bonpos, ao invés de ficarem voltando-se para o príncipe do norte da Índia, Siddartha Gautama como seu Buddha e como a origem de seus mais elevados ensinamentos do Sutra, Tantra e Dzogchen, voltam-se até mesmo mais distantes no tempo, a outro príncipe, Shenrab Miwoche (gShen-rab mi-bo-chc), nascido em Olmo Lungring, na remota Ásia Central, como seu Buddha e como a origem de seus ensinamentos. Consequentemente, ao último é dado o título de Tonpa ou Professor (ston-pa), literalmente "aquele que revela".

Estudantes modernos questionam a historicidade da figura de Tonpa Shenrab, e ele apareceu, de fato, numa época fictícia da tradição Bonpo, afirmando que floresceu a 18000 anos atrás. Além disso, a ele é atribuído a Hagiografia nas buscas do Bonpo, de forma alguma inferior a de Shakyamuni Buddha, como encontrado, por exemplo, no Lalitavistara. (1) Ao lado de toda a fabulosa Hagiografia de Padmasambhava, encontrada na vasta literatura da escola de Nyingmapa (algumas como a Padma bKa-thang e a bKa-thang gsir-phreng), a carreira de Tonpa Shenrab representa um dos grandes ciclos épicos da literatura tibetana.
Para quem está de fora, este Yungdrung Bon, hoje em dia, apresenta-se um pouco diferente das outras escolas do Budismo Tibetano, em razão de suas elevadas doutrinas e práticas monásticas. O Bon Contemporâneo possui um sistema monástico muito parecido com o dos Budistas e a filosofia Madhyamaka é totalmente comparável com a das outras escolas budistas tibetanas. De acordo com os Lamas Bonpos, a principal diferença entre o Bon e as escolas Budistas é a linhagem, muito mais que os ensinamentos ou doutrinas, já que os Bonpos voltam-se para Tonpa Shenrab como seu fundador, e os Budistas voltam-se para Shakyamuni. De qualquer forma, todas essas numerosas figuras são manifestações da Iluminação de Buddah em nosso mundo, uma epifania que é tecnicamente conhecida como Nirmanakaya (sprul-sKu). O Dalai Lama tem agora reconhecido o Bon como a quinta escola religiosa tibetana, ao lado dos Nyingmapas, Sakyapas, Kagyudpas e os Gelugpas, e tem dado representação aos Bonpos no Conselho de Relações Religiosas, em Dharamsala. (2)

Notas:

(1) Lalitavistara:
Existem 3 principais biografias e hagiografias de Tonpa Shenrab no Bonpo:
a) mDo'dus ou Dus gsum sangs-rgyas Byung-khungs Kyi mdo
b) gZer-myig ou Dus-pa rin-pa-chei rgyud gzei-myig
c) gZi-brjid ou Dus-pa rin-po-che dri-ma med-pa gzi-brjid rab tu bar-bai mdo
Contudo, a carreira monástica de Tonpa Shenrab, no final de sua vida, revela muitas semelhanças ao relato da Grande Renúncia de Shakyamuni Buddha, e aos subsequentes ensinamentos, como encontrado, por exemplo, no Lalitavistara. Sua história de vida é diferente em origem, completamente independente de qualquer fato que remonte ao Budismo Indiano. Nesse sentido, a Escola Russa Kuznetsov vê Tonpa Shenrab como tendo sua origem iranianiana ou na Ásia Central. Certas escolas tibetanas contemporâneas vêem Tonpa Shenrab como sendo um nativo do Tibet, muito mais que um príncipe ou sacerdote oriundo da Ásia Central. Lonpon Tenzin Namdak, seguindo a tradição Bon, é assertivo em dizer que Tonpa Shenrab não era tibetano, mas originário de Ol-mo lung-ring, no qual identifica com Shambala. Nesse caso, Ol-mo lung-ring era um domínio místico e não uma localidade geográfica precisa, em algum lugar ao noroeste do Tibet, nos tempos históricos.

(2) Christopher Beckwith, um estudioso da Universidade Press, em Princeton, vê uma forte relação do velho reino tibetano com a Ásia Central. Em vista dessa conexão, o termo Bon possivelmente poderia ter sido tirado da linguagem de Sogdian, iraniana da Ásia Central, onde a palavra "bwn" significa "dharma". Essa palavra também aparace como primeiro elemento no livro de Zoroastro, de acordo com o processo de criação, o Bundahishn. Beckwith também tem apontado para um possível substrato Indo-Iraniano, na linguagem Zhang-Zhung. Os Sogdians foram os maiores comerciantes de tecidos do noroeste do Tibet e alguns textos budistas, na linguagem Sogdian, têm sido recuperados da Ásia Central.

O Desenvolvimento Histórico do Bon

Alguns historiadores e estudantes tibetanos estavam cientes desta distinção entre os 2 tipos de Bon, referidos acima (1), e, certamente, os próprios Lamas Bonpos também estavam. De acordo com um estudante nativo, Lonpon Tenzin Namdak, a história do desenvolvimento do Bon pode ser dividida em 3 fases:
1. O Bon Primitivo era o xamanismo indígena e anímico do Tibet e das regiões adjacentes, nos tempos remotos. De fato, de acordo com a tradição Bonpo, algumas dessas práticas eram como invocações de deuses (lha gsol-ba) e ritos para exorcizar espíritos malígnos (sel-ba). Isso foi, na verdade, ensinado pelo próprio Tonpa Shenrab, quando fez uma rápida visita a Kongpo, no Sudoeste do Tibet, nos tempos pré-históricos (2). Muitos ritos foram posteriormente incorporados dentro da classificação de ensinamentos e práticas do Bon, conhecidos como os Noves Caminhos ou Veículo (theg-pa rim dgu). Esses tipos de práticas xamânicas são atualmente conhecidas como "Os Caminhos Causais do Bon" (rgyu'i theg-pa). Os ensinamentos e práticas encontrados nesses Caminhos são considerados dualísticos em seu ponto de vista filosófico, ou seja, os deuses (lha) representam as forças da luz e ordem, chamadas Ye, e os demônios (bdud) representam as forças da escuridão e do caos, chamadas Ngam, tendo uma existência independente. O interesse do praticante está principalmente na performance dos rituais, que invocam as energias positivas dos deuses e afastam as influências negativas dos demônios e espíritos malígnos (gdon). Um exame dos textos ritualísticos em questão, revelam amplamente serem de uma origem não-hindú. Todavia, assim como o Budismo em geral, o Yungdrung Bon é totalmente contrário à práticas de sacrifícios de sangue (dmar mehod), sendo que as origens de certas práticas são atribuídos aos demônios canibais Sinpo (srin-po) e não a Tonpa Shenrab. Portanto, os Lamas Bonpos têm repugnância em identificar até mesmo os Caminhos Causais do Bon com o xamanismo dos Jhangkris, ou os xamãs que ainda florescem nas montanhas do Nepal e continuam, até hoje, a realizar sacrifícios de sangue.

2. O Bonpo Antigo (bon rnying-ma) ou Yungdrung Bon (g.yung-drung bon), consiste nos ensinamentos e práticas atribuídas a Shenrab Miwoche, em sua função como Mestre, ou a Busca da Revelação (ston-pa ), e, particularmente, significa os altos ensinamentos do Sutra, Tantra e Dzogchen. Ele revelou esses ensinamentos aos seus discípulos em Olmo Lungring, na terra e em qualquer lugar do reino celestial, em sua antiga encarnação como Chimed Tsugphud (chi-med gtsug-phud). Esses ensinamentos de Tonpa Shenrab, já marcados em escritos de sua própria época, ou no período seguinte, dizem terem sido levados tardiamente de Olmo Lungring, em Tazik, ao país do Zhang-Zhung, no Tibet do Norte e Ocidental, onde foram traduzidos na linguagem Zhang-Zhung. O Zhang-Zhung parece ter sido uma linguagem real, distinta do Tibetano, e aperentemente relacionada ao dialeto Tibeto-Burman, do Oeste do Himalaia, de Kinauri. Nesse caso, não foi uma criação artificial fabricada pelos Bonpos, visando ter uma linguagem antiga original, correspondendo ao sânscrito indiano das escrituras Budistas.
Iniciando com o reinado do segundo rei do Tibet, Mutri Tsanpo, é falado que certos textos Bonpos, em especial o Tantras Pai (pha rgyud), foram levados de Zhang-Zhung ao Tibet Central e traduzidos na linguagem tibetana. Assim, os Bonpos afirmam que os Tibetanos adquiriram um sistema de escrita nessa época, baseado nos manuscritos sMar-yig, usado no Zhang-Zhung. Este teria sido anterior ao manuscrito de dbus-med, agora usado diversas vezes para compor os manuscritos tibetanos, especialmente entre os Bonpos. Posteriormente, os Bonpos sofreram 2 perseguições no Tibet Central, a primeira sob o reinado do oitavo rei do Tibet, Trisong Detsan, no século VIII de nossa era. De acordo com a tradição, em ambas as ocasiões, os sábios Bonpos perseguidos, esconderam seus livros em vários lugares do Tibet e regiões adjacentes, algumas como Bhutan. Esses textos foram redescobertos no início do século X. Assim, eles são conhecidos como os "Tesouros Ocultos" (gter-ma) (3). Alguns outros textos nunca foram ocultados, mas permaneceram em circulação e passaram através do século VIII, numa linhagem contínua. São conhecidos como snyan-rgyud, literalmente, "transmissão oral", tanto que eles costumam dizer ter existido como textos escritos, mesmo nos períodos iniciais. Um exemplo de tradição oral é o Zhan-Zhung snyan-rgyud, no qual, no século VIII, o Mestre Tapihritsa deu permissão ao seu discípulo Gyerpungpa de transcrever nessa forma as suas instruções orais secretas (man-ngag, Skt upadesha). Ou então, os textos foram ditados durante as visões de êxtase ou estados alterados de consciência, por certos sábios antigos ou certas deidades, aos Lamas que viveram nos séculos anteriores. Um exemplo disso foi a famosa Hagiografia de Tonpa Shenrab, conhecida como gZi-brjid, ditada a Lodan Nyingpo (bl.o-ldan snying-po, b. 1360), por certos espíritos das montanhas. Essa classificação é mais propriamente similar à classificação Nyingmapa das escrituras dentro do bKa-ma e do gter-ma. Essa forma floresceu no Tibet Central e Ocidental, e continua até nossos dias. Os ensinamentos do Bon revelados por Tonpa Shenrab são classificados diferentemente em 3 Hagiografias tradicionais, relatadas de sua vida. No geral, Tonpa Shenrab tinha dito ter explicado o Bon em 3 ciclos de ensinamentos.
I - Os 9 Sucessivos Veículos de Iluminação (theg-pa rim dgu)
II - Os 4 Portais do Bon e o quinto, no qual está o Tesouro (sgo bzhi mdzod lnga)
III - Os 3 Ciclos de Preceitos que são: o Exterior, o Interior e o Secreto (bKa phyi nang gsang sKor gsum).

Esses Nove Caminhos ou Nove Veículos Sucessivos de Iluminação são delineados de acordo com 3 sistemas diferentes, dos textos ocultos (gter-ma), que foram escondidos durante as primeiras perseguições do Bon, e foram descobertos nos séculos seguintes. Esses sistemas são designados de acordo com a localização onde os textos foram encontrados.
1. O Sistema dos Tesouros do Sul (lho gter lugs): esses eram os textos achados em Drigtsam Thakar (brig-mtsham mtha dKar), ao sul do Tibet e em Paro (spa-gro), em Bhutan. Aqui, os Nove Caminhos são primeiramente divididos nos 4 Caminhos Causais, nos quais contém muitos mitos e rituais mágicos xamânicos, e que são, principalmente, relativos aos trabalhos com energias para benefícios mundiais. Depois, existem os 5 Caminhos espirituais superiores, conhecidos como Caminhos Frutificantes. Aqui, o propósito não é obter poder ou assegurar saúde e prosperidade neste mundo, mas realizar a última meta espiritual da liberação da experiência de sofrimento nos ciclos de renascimento, dentro de Samsara. O último veículo encontrado aqui, nesta nona classificação, é o Dzogchen (4).
2. O Sistema dos Tesouros Centrais (dbus gter lugs). Esses textos foram redescobertos em vários lugares do Tibet Central, incluindo o grande Monastério Budista de Samye. Geralmente, essa classificação dos ensinamentos Bonpos é quase similar ao Sistema dos Nove Veículos encontrados nas tradições da escola Nyingmapa, do Budismo Tibetano. Alguns desses textos Bonpos falam que teriam sido trazidos da Índia ao Tibet, pelo grande tradutor tibetano Vairochana de Pagor, que traduziu trabalhos tanto do Budismo quanto das tradições Bonpos (5).
3. O Sistema dos Tesouros do Norte (byang gter lugs): esses textos foram redescobertos em várias localidades, ao norte do Tibet Central. Porém, segundo Lopon Tenzin Namdak, esse sistema não é muito conhecido. Os 4 Portais do Bon e o tesouro, no qual está o quinto (bon sgo bzhi mdzod lnga), representa outro, e provavelmente independente, sistema para classificação dos ensinamentos Bonpos, dentro de 4 grupos conhecidos como os 4 Portais (sgo bzhi), junto com um apêndice, conhecido como Tesouro (mdzod). Esses grupos ou classes de ensinamentos são:
1. O Bon das "Águas Brancas", contendo os Mantras Ferozes (chab dKar drag-po sngags Kyi bon): essa coletânea consiste em práticas tântricas esotéricas, focada na recitação colérica ou Mantras Ameaçadores associado a várias deidades meditativas. Dentro dessa classe estão incluídos o Ciclo Chyipung ou "Coletânea Geral" (spyi-spungs sKor), que fala de práticas associadas ao Tantra Pai (pha rgyud). (6)
2. O Bon das "Águas Negras", para a continuidade da Existência (chab nag srid-pa rgyud Kyi bon): essa coletânea consiste em vários rituais mágicos, ritos funerários, ritos de redenção, práticas divinatórias, e necessário ao processo de purificação e neutralização das energias negativas. Essa coletânea correponderia amplamente aos 4 Caminhos Causais, descritos acima. Aqui, o termo "negro" não refere-se à intenção do praticante, mas à expulsão da negatividade, na qual o preto simboliza.
3. O Bon do Extensivo Prajnaparamita do País de Phanyul (phan-yul rgyas-pa bum gyi bon): essa coletânea consiste nos preceitos morais, regras e ensinamentos éticos, tanto para os monges quanto para as pessoas que iriam se ordenar. Particularmente, o foco está nos sistemas éticos e filosóficos dos Sutras Prajnaparamita, no qual está preservado, na visão Bonpo, em 16 volumes conhecidos como Khamschen. Essa coleção basicamente representa o sistema Sutra, ao passo que o Chab dKar representa o sistema Tantra. (7)
4. O Bon das Escrituras e das Instruções Secretas Orais dos Mestres (dpon-gsas man-ngag lung gi bon): essa coletânea contem as instruções orais (man-ngag) e as escrituras manuscritas (lung) de vários Mestres (dpon-gsas), pertencentes as linhagens de transmissão para o Dzogchen.
5. O Bon dos Tesouros, no qual está a mais elevada pureza e está tudo incluído (gtsang mtho-thog spyi-rgyud mdzod Kyi bon): esta coletânea contém o material essencial de todos os 4 Portais do Bon. O Tesouro, no qual está o quinto (mdzod lnga), é descrito no gZer-myug. "Como a mais sublime pureza (gtsang mtho-thog ), estende-se a todos os lugares. Como introspecção, pertence ao Bon que é Universal (spyi-geod). Purifica o fluxo da consciência em relação à todos os 4 Portais".

Os 3 Ciclos de Preceitos, Exteriores, Interiores e Secretos (bKa phyi nang gsang sKor gsum) são:
a) O Ciclo Externo (phyi sKor): contém o sistema Sutra de ensinamentos (mdo-lugs), referente ao Caminho da Renúncia (spong lam).
b) O Ciclo Interno (nang sKor): contém o sistema Tantra de ensinamentos (rgyud-lugs), referente ao Caminho da Transformação (sgyur lam), de outra forma conhecido como os Mantras Secretos (gsang sngags).
c) O Ciclo Secreto (gsang sKor): contém os ensinamentos Upadesha (man-ngag), relativo ao Caminho da Auto-Liberação (grol lam), também conhecido como Dzogchen, a Grande Perfeição.

3. Novo Bon (bon gsar-ma): surgido desde o século XIV, apoiando-se nas descobertas de diferentes sistemas Terma mais superiores. Como um todo, esse sistema é quase igual ao Nyingmapa e, aqui Padmasambhava é também reconhecido como uma importante figura. Contudo, alguns Tertons, como Dorje Lingpa, descobriram tanto o Nyingmapa quanto o Bonpo Termas. No texto, tal como o Bon-Khrid, redescoberto por Tsewang Gyalpo, é afirmado que Padmasambhava foi a Uddiyana e recebeu os ensinamentos Dzogchen diretamente de Sambhogakaya Shenlha Odkar (gShen-lha od-dKar). Depois ele transmitiu esses ensinamentos no Tibet, disfarçando muitos deles como Termas, para o uso das futuras gerações de Bonpos. Também de acordo com Shardza Rinpoche, o Movimento Novo Bonpo iniciou no século XIV e continua até hoje. Os Termas revelados a alguns Mestres, como Lodan Nyingpo Mizhik Dorje (também conhecido como Dorje Lingpa), Kundrol Dragpa, Dechen Lingpa, Sang-ngag Lingpa, Khandro Dechen Wangmo, são todos considerados Tersar (gter-gsar) ou textos valiosos recém-descobertos. O Novo Bon floresceu, sobretudo, no Tibet Oriental.

** Notas do Capítulo: **

(1) Isso não significa que Dalai Lama considera os Bonpos como sendo Budistas. De acordo com muitos Lamas Tibetanos, os Budistas seguem o chos e os Bonpos seguem o bon. Entretanto, tanto os Budistas (chos-pa), quanto os Bonpos são considerados "Internos" (nang-pa), contrários aos "Externos" ou não-budistas (phyia-pa), como os hindus, jainistas, islâmicos e cristãos.
(2) Por exemplo, veja o Grub-mtha legs bshads shel Kyi mi-long de Chos Kyi nyi-ma dpal bzang-po (1674-1740). Essa seção do texto está de acordo com o fato do Bon ter sido trazido por Sarit Chendra Das, em Contribuições nas Religiões e História do Tibet. O autor, um estudante Gelupga, distinguiu 3 fases mo desenvolvimento do Bon: jol bon, Khyar bon e bsgyur bon. Contudo, não é assim que os Bonpos vêem sua própria história. O texto é útil para indicar como as outras escolas Buditas o viam. O relato encontrado aqui, pode ser assim resumido:
a) O Bon Revelado (jol bon): durante o reinado do sexto Rei do Tibet, Tride Tsanpo (Khri-lde btsan-po), um demônio ou espírito malígno (dre), raptou um menino de 13 anos, que pertencia ao clã Shen (gshen) e o levou a diferentes lugares perigosos, nas montanhas do Tibet e Kham. Outros relatos acrescentam o detalhe que esse menino de 13 anos foi descoberto por ter orelhas de asno, aparentemente de nascimento, onde os espíritos malígnos sumiram com ele. Por 13 anos seguintes, esse menino perambulou por lugares ermos e veio a ser totalmente instruído nas artes mágicas dos espíritos não-humanos (mi ma Yin). Aos 26 anos, ele foi permitido a retornar à sua aldeia natal. Devido a essa viagem à Outros Mundos e ao Conhecimento que adquiriu desse modo, ele sabia os nomes e os esconderijos de todos os espíritos e demônios. Ele sabia quais os espíritos que causavam problemas entre os humanos e quais os espíritos que traziam boa sorte e prosperidade. E ele sabia como acalmar espíritos hostis, com rituais e oferendas. Assim, esse jovem foi o primeiro a introduzir o Bon entre os Tibetanos e, à frente de seu tempo, os reis do Tibet seguiram ao Bon e à nenhuma outra religião. Além disso, é dito que, quando ele retornou à sua aldeia, escondeu suas orelhas de asno com um turbante de lã, sendo esta a razão que o turbante branco veio a ser o mecanismo distintivo do Bonpo antigo. Isso traduzia que esses primeiros Bonpos, abaixo (og) subjulgavam os espíritos malígnos, acima (steng) invocavam os deuses e seus ancestrais, e na parte intermediária (bar) purificavam o lar quando tornava-se carregado, ofendendo a divindade do lar (thab lha) e outros espíritos domésticos. Esse relato é um cenário típico da iniciação xamânica, estando relacionado as viagens do xamanismo no Tibet.
b) O Bon Desvirtuado (Khyarbon): Representa inovações feitas devido às influências externas no Tibet de outros lugares. Quando o rei do Tibet, Drigum Tsanpo (Gri-gum btsan-po), foi morto devido as suas perseguições aos Bonpos, fez-se necessário prevenir que o espírito do rei assassino, que tornara-se um ghin ou fantasma, não causasse danos entre as pessoas. Consequentemente, 3 praticantes Bonpos foram convidados da Cachemira (Kha-che), Gilgit (Bru-sha) e de Zhang-Zhung, respectivamente, para realizar os ritos funerários apropriados, mandando o espírito descansar. Isso aconteceu porque os sacerdotes locais não sabiam como fazer. Alguns ritos são conhecidos como Dur. Esses 3 Bonpos eram estrangeiros de países ao oeste do Tibet. Um deles, possivelmente o de Zhang-Zhung, ofereceu sacrifícios às divindades Gekhod (o Patrono de Zhan-Zhung), Khyund (Garuda) e Me-lha (o deus do fogo). Com isso, ele foi capaz de voar através do céu, no seu tambor e divino depósito de mineral e metal escondidos debaixo da terra. O segundo Bonpo, provavelmente de Gilgit, era habilidoso nas artes divinatórias e pôde modificar o futuro pelo significado de nós e cordas, uma prática conhecida como ju-thig, e o uso de ossos (sog dmar). Mais ainda, ele fez inspiradas entonações oraculares (lha bKa). Isso surgiria para localizar a origem desse método divinatório em Gilgit. O terceiro Bonpo da Cachemira, a terra famosa por seus ensinamentos tântricos entre os Budistas e os Shaivistas, era perito em conduzir as cerimônias funerárias. Previamente, não tinha existido a filosofia do Bon no Tibet, mas agora o Bon tornava-se uma mistura das doutrinas Shaivistas dos Tirthikas (hindus da Cachemira), e por isso tornou-se conhecido como o Bon Desvirtuado (mu-stegs dbang-phyug-pai grub-mtha Khyar-ba bon).

3. Bon Transformado (bsgyur bon): Ocorreu em 3 fases.
Primeiro, um Pandita Indiano, tendo caluniado um famoso mestre Budista e sendo dirigido por atos imorais, foi expulso de Sangha ou a Comunidade Monástica dos Robes Azuis (sham-thabs sngon-po-can), e proclamou-se um grande Mestre. Lá, ele escreveu vários livros hereges e os escondeu. Após alguns anos, convidou o público a testemunhar a descoberta desses textos que havia escondido previamente. Ele proclamou que seriam escrituras sagradas do Bon, e, com isso, trouxe a transformação para a religião Bon.
Segundo, durante o reinado do grande rei Budista do Tibet, Trisong Detsan, foi emitido um decreto exigindo que todos os Bonpos renunciassem ao Bon e aceitassem a crença Budista da Índia. Um Bonpo chamado Rinchenchok (Rin-chen mchog) recusou-se a fazer isso e foi punido pelo rei por sua obstinação. Ele ficou muito furioso e, por causa disso, Rinchenchok e outros sacerdotes Bonpos compuseram as escrituras Bonpos praticamente plagiando completamente os Budistas. Quando o rei soube disso, Rinchenchok foi insultado e teve seus sacerdotes decapitados. Todavia, alguns conspiradores sobreviveram e esconderam cópias desses textos sob rochas, em vários lugares. Mais tarde, esses sacerdotes redescobriram os textos e tornaram-se os Bonpos Termas. Terceiro, depois da inundação e morte do rei Tibetano Lang darma, no século IX, alguns sacerdotes Bonpos continuaram a alternar outros textos Budistas, usando diferentes ortografias e terminologias. No Tsang Superior, 2 deles, Shengur Luga (gSen rgur Klu-dga) e Daryul Drolag (Dar-yul sgro-lug), compuseram mais textos e os esconderam sob as rochas. Com isso, converteram muitas escrituras Budistas em textos Bonpos, assim como transformando o extenso Prajnapamarita (Yum rgyas) nos Kham-chen, a versão Bonpo do Prajnapamarita . Posteriormente, eles tiveram uma atitude de aparente surpresa pelas descobertas. Esses textos ficaram conhecidos como as "Águas Brancas" (Chab dKar) e o Bon Frutificador (bras-bui bon). A tônica deste relato é mais propriamente anti-bon, e isso pode ser contrastado com os relatos dos próprios Bonpos sobre a origem e o desenvolvimento de suas tradições, como os achados no Lengs-bshad mdzod, de Shardza Rinpoche.

(3) De acordo com os tradicionais relatos encontrados em gZer-myig e gZi-brjid, o príncipe demônio e feiticeiro Khyabpa Lagring (bDud-rgyal Khyab-pa-lag-ring), roubou os 7 cavalos de Tonpa, de seu estábulo em Ol-mo lung-ring, e depois de afugentá-los, escondeu-os em Kongpo, um país ao sudoeste do Tibet. Tonpa Shenrab encarou isso como uma oportunidade para viajar ao Tibet, visando subjulgar os demônios (srin-po), que, na época, habitava o país e oprimia a humanidade primitiva.

(4) Na tradução Bonpo Terma, veja Samten Karmay, o Tesouro dos Bons Discursos, op cit. Todas as recentes descobertas Termas dos Bonpos foram sa-gter, que são os atuais textos físicos escritos em épocas anteriores e escondidos em vários lugares, do Tibet e Bhutan. Muitas das atuais descobertas dessas coleções de Termas não foram estudadas pelos Lamas, mas por simples fazendeiros e caçadores, que não poderiam ter possivelmente inventado esses textos. Entre os mais famosos desses recentes "Tertons" estão 3 ladrões Nepali, conhecidos como os 3 Atsaras, que no ano 961 EC roubaram um pesado baú fechado do templo Cha-ti dmar-po, no Monastério Samye. Fugindo para as montanhas com sua pilhagem, pensando que continha ouro, eles abriram o baú e encontraram somente velhos textos. Muito desapontados, eles venderam esses velhos livros a alguns Lamas Bonpos da localidade, por ouro e cavalos.

(5) Os Nove Caminhos do Bon, ou melhor, os Nove Veículos Sucessivos do Bon (bon theg-pa rim dgu), como classificado no Sistema de Tesouros do Sul (lho gter lugs), é explicado em vários capítulos do gZir-brjid, a Hagiografia mais extensa de Tonpa Shenrab. Esses capítulos têm sido traduzidos por Snellgrove, com a supervisão de Lopon Tenzin Namdak. Veja David Snellgrove, Os Nove Caminhos do Bon, Oxford University Press, London 1967. Aqui, os Nove Caminhos são descritos dessa forma:
a) O Caminho da Prática da Predição (phywa ashen theg-pa): literalmente "theg-pa" significa um veículo ou transporte, mais propriamente que estrada ou caminho. "gShen", uma palavra de origem e significado obscuro, poderia aqui ser traduzida como "prática" ou "praticante", de acordo com Lopon. E o termo
"phywa", significa predição ou prognóstico. Esse caminho ou veículo é principalmente relacionado com a divinação (mo), cálculos astrológicos ou geomânticos (rtsis), diagnóstico médico (dpyad) e prática de rituais de cura (gto).
b) O Caminho da Prática de Manifestações Visíveis (snang gshen theg-pa): esse caminho é principelmente relacionado com as manifestações visíveis (snang-ba), vistas como manifestações positivas das atividades dos deuses (lha), que vêm em auxílio da humanidade. Consequentemente, a ênfase é dada em invocar os deuses (lha gsol-ba) em seus auxílios. Inclui muitas classes de deidades como o Thugs-dKar, o sGra-bla, o Wer-ma, etc.
c) O Caminho da Prática do Poder Mágico (phrul gshen theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com rituais mágicos para assegurar prosperidade e controle sobre os espíritos invocados, especialmente os ritos de exorcismo (sel-ba), para eliminar energias negativas e provocações negativas de espíritos malígnos (gdon), que vêm perturbar a existência humana. O praticante trabalha com essas energias em termos de invocações, conjurações e aplicações (bsnyen sgrub las gsum).
d) O Caminho da Prática da Existência (srid gshen theg-pa). Aqui, "existência" (srid-pa) significa propriamente o processo de morte e renascimento. Esse caminho é também conhecido como Dur ghen, a prática de cerimônias para exorcizar (dur) os espíritos da morte que estão perturbando os vivos. É, por isso, principalmente relacionado aos 360 tipos de ritos realizados, tanto quanto aos métodos para garantir a boa fortuna e a longevidade. Esses 4 representam os Quatro Caminhos Causais do Bon (bon rgyu'i theg-pa bzhi). São seguidos pelos caminhos superiores de uma natureza mais espiritual, cuja meta é a liberação e a iluminação, no qual são conjuntamente conhecidos como os Caminhos Realizadores (bras-bu'i theg-pa).
e) O Caminho dos Praticantes Leigos Virtuosos (dge-bsnyen theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com a moralidade e ética, tal como as Dez Ações Virtuosas (dge-ba beu), as Dez Perfeições ou Paramitas, etc, tanto quanto as atividades devotas, como erguer stupas, etc.
f) O Caminho dos Sábios Ascetas (drang-srong theg-pa): o termo drang-srong (em sânscrito "rishi" **), significando um sábio, tem aqui o sentido técnico de um monge completamente ordenado que tem feito todos os complementos dos votos, correspondendo ao bhikshu Budista (dse-slong). A referência principal é com os votos dos monges e as regras da disciplina monástica (dul-ba).
g) O Caminho do Branco A (A-dkar theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com a prática tântrica da transformação, pelo meio de visualizar alguém como a meditação da divindade e as práticas associadas com a Mandala. Aqui estão incluídos os Tantras Inferiores e Superiores.
h) O Caminho do Shen Primordial (ye gshen theg-pa): esse caminho é principalmente relacionado com certas práticas tântricas secretas, incluindo o próprio relacionamento com o Guru e com a consorte Tântrica, tanto quanto com as metodologias do Processo de Geração (bskyed-rim) e o processo de Perfeição (rdzogs-rim) e com a conduta ligada a eles.
i) O Caminho Final (bla-med theg-pa): esse último (bla na med-pa) caminho é o encerramento dos ensinamentos e práticas do Dzogchen, a Grande Perfeição, na qual descreve o processo de Iluminação em relação a Base, ao caminho, e aos Frutos, tanto quanto as práticas de contemplação em termos da concepção das meditações e da conduta.

(6) Os Nove Caminhos, de acordo com o Sistema dos Tesouros Centrais (dbus gter lugs), também são divididos nos Veículos Causais (rgyu'i theg-pa) e nos Veículos Frutificadores (bras-bu'i theg-pa). São eles:
a) O Veículo dos Deuses e Homens, onde um confia no outro (lha mi gzhan rten gyi theg-pa): é dito que este é o veículo daqueles discípulos que primeiro têm que ouvir os ensinamentos dos outros. Esse veículo corresponde ao Shravakayana no Sistema Budista e a concepção filosófica é a dos Vaibhashikas.
b) O Veículo dos Shenrabpas, que compreendem sozinhos (rang-rtogs gshen-rab kyi theg-pa): esses praticantes não necessitam ouvir os primeiros ensinamentos de outros, mas os descobrem por eles mesmos. Esse veículo corresponde ao Pratyekabuddhayana dos Budistas e as concepções filosóficas dos Sautrantikas.
c) O Veículo dos Bodhisattvas Compassivos (thugs-rje sems-pa'i theg-pa): esse veículo corresponde ao Sistema Sutra Mahayana ou ao Veículo Bodhisattvayana no Sistema Budista. Em particular, a referência é aos Bodhisattvas que praticam os Dez Paramitas da generosidade, moralidade, paciência, vigor, meditação, força, compaixão, confiança, meios hábeis e sabedoria. A concepção filosófica é a dos Yogacharins ou Chittamatrins (sems-tsam-pa), que distinguem a ausência de qualquer existência inerente ao Eu interior, tanto quanto aos fenômenos externos.
(continua)

**Acréscimo Meu: Rishi, em sânscrito, significa uma espécie de sábio antigo que via os Hinos (mantras) dos Vedas. Também é chamado de Muni, que significa sábio ou aquele que pratica o silêncio (mauna).

d) O Veículo dos Bodhisattvas são elaborações conceituais externas (g.yung-drung sems-pa'i spros med-pa'i theg-pa): esse veículo também corresponde ao Bodhisattvayana no Sistema Budista. O termo Bonpo g.yung-drung sems-dpa, literalmente Svastikasattva ou o "princípio Swastica", tem o mesmo significado que o termo Budista Bodhisattva (byang-chub sems-dpa). Aqui encontra-se a mesma prática dos Dez Paramitas. Contudo, o ponto de vista filosófico, do Vazio e da Ausência de qualquer existência inerente ao self interior e ao mundo fenomenológico externo, é compreendido pela via de Madhyamaka (dbu-ma-pa), mais que de Chittamatra. Esses 4 caminhos inferiores representam os Caminhos Causais (rgyu'i theg-pa), enquanto aqueles que os sucedem são conhecidos como os Veículos Frutificadores.
e) O Veículo do Bon Primordial da Conduta Pura e Atividade Ritual (bya-ba gtsang-spyod ye bon gyi theg-pa): focado na atividade ritual (bya-ba, em sânscrito Kriyâ **) e pureza da conduta, esse veículo corresponde ao Kriyatantrayana no Sistema Nyingmapa. Em relação aos métodos, o Princípio da Sabedoria (ye-shes-pa) é invocado até o alcance da visão da pessoa e tratado como um princípio soberano, requerido por um servo submisso e, desse modo, o praticante recebe o Conhecimento (ye-shes) e as bençãos (byin-rlabs) da divindade.
f) O Veículo do Conhecimento Clarividente que processa todos os aspectos (rnam-pa kun-ldan mngon-shes kyi theg-pa): o foco é igualmente na ação do ritual externo e na prática do yoga interno. Esse veículo corresponde ao Charyatantrayana, no Sistema Nyingmapa. Juntamente com a prática dos Dez Paramitas e as Quatro Recordações, a presença do Princípio da Sabedoria é invocado, mas nesse momento a deidade é reguardada como um amigo íntimo mais que como um soberano supremo. Esses 2 veículos representam os Tantras Inferiores ou Externos (phyi rgyud), enquanto os veículos que seguem representam os Tantras Superiores ou Internos (nang rgyud).
g) O Veículo da Compaixão Manifesta Visível correspondendo ao Atual Processo de Geração (dngos bskyed thugs-rje rol-pa'i theg-pa): esse veículo corresponde ao Tantra Yoga e a certas extensões do Tantra Mahayoga e do Tantra Anuttara, no Sistema Budista de classificação, tanto para os Nyingmapas quanto para as Escolas mais recentes.. Alguém estabelecendo-se na elevada concepção da Verdade Final e permanecendo na condição original do Estado Natural, engaja-se no Processo de Geração (bskyed-rim) e transforma-se na divindade da meditação, dessa forma realizando as qualidades atribuídas àquela manifestação de consciência iluminada.
h) O Veículo no qual Tudo é Completamente Perfeito e Excessivamente Significativo (shin tu don-ldan kun rdzogs kyi theg-pa): tendo se estabelecido na Verdade Final e na condição original do Estado Natural, como foi no caso acima, aqui a pessoa dá ênfase ao Processo de Perfeição (rdzogs-rim) mais que ao Processo de Geração (bskyed-rim), então o Espaço e a Percepção são realizados para serem inseparáveis (dbyings rig dbyer-med). E, particularmente, relacionado à divindade da meditação, o praticante vem a realizar a gnosis ou a Consciência Primitiva da inseparabilidade da felicidade e do vazio (bde stong ye-shes). Esse veículo corresponde ao Tantra Mahayoga e especialmente à classificação do Tantra Anuyoga dos Nyingmapas.
i) O Insuperável Veículo do Cume Mais Elevado da Grande Perfeição Primordial (ye nas rdzogs-chen yang-rtse bla-med kyi theg-pa): esse veículo inclui os Ensinamentos Dzogchen, no sentido das Séries Mentais (sems-sde), nas quais enfatizam o lado da percepção do Estado Natural, e as Séries Espaciais (klong-sde) que enfatizam o lado do Vazio, assim como as Séries de Instruções Secretas que dão ênfase às suas inseparabilidades.
(continua)

** Acréscimo meu ao texto: Kriyâ, em sânscrito, significa ação, ritual. É um dos principais aspectos da prática do Tantrismo. O Kriyâ Yoga, ou "Yoga da Ação" é o nome que Patanjali deu à prática concomitante da ascese (tapas), do estudo (svâdhyâna) e da devoção à divindade (îshvara-pranidhâna).

(7) De acordo com Lopon Tenzin Namdak, as traduções dos termos técnicos chab dkar como "águas brancas" e chab nag como "águas negras", são problemáticas. Realmente, chab significa "água" em Tibetano, mas a palavra poderia originalmente ter sido um termo Zhang-Zhung e tido um diferente e, agora, esquecido sentido. No antigo costume Bonpo, os termos "branco" (dKar) e "negro" (nag) não tiveram as conotações morais que tiveram no inglês, tais como "magia branca" feita para bons propósitos e "magia negra" feita com objetivos maléficos. Nesse contexto, o branco refere-se ao fato de invocar o auxílio dos deuses e espíritos, puxando a energia positiva para alguém, enquanto o preto refere-se ao exorcismo e expulsão das energias negativas, percebidas como um processo de purificação. As energias negativas exorcizadas são sentidas a parecer pretas na cor, mas a intenção aqui é positiva, a purificação.

(8) De acordo com Karmay, o nome Ohan-yul designa o distrito de Phan-yul ao norte de Lhasa. Pode ter sido o local onde a tradução Bonpo do Prajnaparamita foi feita, no período primitivo, posteriormente ocultada em uma região diferente e redescoberta, mais tarde, por gShen-chen Klu-dga, no século XI. Porém, o Lopon disputa essa teoria e assegura que phan-yul foi provavelmente uma palavra Zhang-Zhung, cujo significado tem sido esquecido. O termo Tibetano "bum", significando literalmente "100.000", é a designação usual, na tradição Budista, para a coleção completa dos Sutras Prajnaparamita, o mais extenso, o qual é composto de 100.000 versos.

As Origens do Dzogchen

Justo no caso dos Nyingmapas, que estão entre os Budistas Tibetanos, a tradição Bonpo tem como seus mais elevados ensinamentos o sistema de contemplação, conhecido como Dzogchen, "A Grande Perfeição" (rdogs-pa chen-po). Esses ensinamentos revelam, na experiência imediata de alguém, o estado Primordial (ye gzhi), que é dito, a inererente natureza de Buddha no indivíduo ou Bodhicitta, o qual está além de todo o tempo, condicionamento e limitações conceituais. Esse Estado Natural (gnas-lugs) é falado em termos de sua pureza primordial intrínseca (Ka-dag) e sua perfeição espontânea em manifestação (lhun-grub). Tanto os Budistas Nyingmapas quanto os Bonpos asseguram que suas respectivas tradições Dzogchen foram levadas ao Tibet Central, no século VIII, a transmissão Nyingmapa de Mahasiddha Shrisimba, vivendo no norte da Índia, e a tradição Bonpo da linha dos Mahasiddhas, habitando ao redor do Monte Kailas e do país de Zhang-Zhung, ao oeste e norte do Tibet. Portanto, parace existir por lá 2 linhagens diferentes, historicamente autênticas, das transmissões desses ensinamentos.
Subsequentemente, a transmissão Nyingmapa dos preceitos do Dzogchen foi levada ao Tibet Central principalmente devido às atividades de 3 Mestres: o grande Mestre Tântrico Padmasambhava do país de Uddiyana, o Mahasiddha e Mahapandita Vimalamitra da Índia, e o tradutor tibetano nativo Vairochana de Pagon. De acordo com a tradição, o último veio originalmente de uma família Bonpo. Diz-se que ele e Vimalamitra foram responsáveis pelas primeiras traduções dos textos pertencentes ao Semde (sems-sde) ou "Séries Mentais" e o Longde (Klong-sde) ou "Séries Espaciais" dos Ensinamentos Dzogchen. Todavia, alguns estudantes, tanto Tibetanos quanto Ocidentais, discutem que Vairochana, na verdade, fez a maioria das traduções referindo-se à ele.

Além disso, alguns estudantes contemporâneos asseguram que os Tantras Dzogchen, os quais representam as pesquisas literárias para os ensinamentos do Dzogchen, eram praticados, na verdade, no século X, por certos desconhecidos Bonpos inescrupulosos e Lamas Nyingmapas que, nesse caso, anacronicamente, referiram-se às primitivas figuras santificadas como Padmasambhava e Tapihritsa, visando ganhar suas aprovações como escrituras autênticas. Eles, portanto, representam um tipo de Budista e Bonpo apócrifo e pseudo-epígrafe. Críticos modernos citam o fato de que, com exceção de 2 breves textos Dzogchen, o Rig-pa'i Khu-bying e o sBas-pa'i sgum-chung, os textos dos Tantras Dzogchen não têm sido achados na biblioteca de Tun Huang, na periferia da China Ocidental, os quais foram lacrados no século X. Mas, simplesmente, note que o fato desses textos não terem sido descobertos em Tun Huang, não prova que eles não existiram em algum lugar no tempo ou que eles devem ter sido compostos após o fechamento daquela biblioteca. Com base nas evidências em voga, e em vista da falta de uma análise completa de todos os textos em questão, pareceria que esta conclusão não estaria garantida. Esse fato tem sido assegurado, por alguns estudantes, que Padmasambhava, embora pudesse ter sido uma figura histórica real, certamente não ensinou o Dzogchen, mas somente o Sistema Tântrico de sGrub-pa bka brgyad, as práticas dos 8 Herukas ou a meditação das deidades furiosas. Esse sistema forma a Divisão Sadhana (sgrub-sde) do Tantra Mahayoga (1). Todavia, eminentes estudantes Lamas Nyingmapas, tais como o último Dudjom Rinpoche, respondem que apesar de Padmasambhava não ter ensinado o Dzogchen como um veículo independente de iluminação, ele, de fato, ensinou como um Upadesha (man-ngag), ou instrução oral secreta, ao seu círculo íntimo de discípulos tibetanos. Essa instrução particular refere-se à prática do Dzogchen e à interpretação das experiências resultante de sua prática de contemplação. No contexto do Sistema Tântrico Mahayoga, Dzogchen é a denominação para a fase mais elevada do processo tântrico de transformação, transcendendo tanto o Processo de Geração (bskyed-rim), quanto o Processo de Perfeição (rdzogs-rim). Nesse contexto, o Dzogchen corresponderia, em alguns meios, às práticas do Mahamudra no Sistema do Neo Tantra (rgyud gsar-ma), de outras escolas Tibetanas. Um texto antigo, o Man-ngag lta-ba'i, tradicionalmente atribuído a Padmasambhava, não trata o Dzogchen como um veículo independente (theg-pa, em sânscrito yana), mas somente como uma parte do Sistema dos Tantras Superiores. Quando ensinado como um veículo independente, a prática do Dzogchen não requer qualquer processo antecedente da transformação tântrica do praticante na divindade, e, mais ainda, antes de penetrar no estado de contemplação equilibrada (mnyam-bzhag) (2). Portanto, isso poderia parecer que, pelo menos de acordo com a tradiçãoNyingmapa, o Dzogchen foi originado como um Upadesha, que elucidava um estado de contemplação ou consciência intrínseca (rig-pa), que transcendeu sozinho o processo tântrico de transformação, ambos em termos da geração e da perfeição.
Por isso, tornou-se conhecido como a "Grande Perfeição", que é visto como o estado de perfeição total e conclusão, onde nada é necessário.

De acordo com a tradição Nyingmapa, os preceitos Dzogchen foram explicados, à priori, em nosso mundo humano, por Nirmanakaya Garab Dorje (dGa-rab rdo-rje, em sânscrito Prahevajra), no país de Uddiyana, e foram posteriormente difundidos na Índia por seu discípulo Manjushrimitra. Esse último o transmitiu a seu discípulo Shrisimba, quem, em resposta, outorgou-os a Padmasambhava, Vimalamitra e Vairochana, o tradutor. Esses 3 levaram os preceitos ao Tibet, na metade do século VIII. Contudo, esse ensinamento foi originalmente uma instrução oral secreta, restrita a um pequeno grupo de iniciados Tântricos. A tradição alega que ele originalmente veio do misterioso país de Uddiyana para o noroeste da Índia. De qualquer forma, ele apresenta-se muito parecido nas fronteiras Indo-Tibetanas do noroeste, onde deveríamos procurar pelas origens do Dzogchen (3). Isso parece igualmente verdadeiro para as origens históricas do Bonpo Dzogchen, para sua linhagem autêntica dos ensinamentos Dzogchen, que também não se originaram na Índia propriamente, mas foram levadas ao Tibet Central, nos séculos IX e X, de Zhang-Zhung ao Norte do Tibet, pelos discípulos descendentes de Gyerpung Nangzher Lodpo. Até o século VIII, o país de Zhang-Zhung tinha sido um reino independente, com sua própria linhagem e cultura. Está situado onde atualmente é o Tibet Ocidental e ao Norte. O centro do país foi denominado pela majestosa presença da montanha sagrada de Gangchen Tise ou Monte Kailas. Examinando a evidência disponível, isso agora apresenta-se parecido com o fato de que antes do Budismo Tibetano vir para o Tibet Central, nos séculos VII e VIII, o Zhang-Zhung tinha um contato extensivo com as culturas Budistas, que floresceram ao seu redor na Ásia Central e nas fronteiras Indo-Tibetanas. Exatamente no oeste de Zhang-Zhung existiu o vasto império Kushana, no qual foi Budista em sua cultura religiosa. Era uma área na qual os Budistas Indianos interagiam com várias linhas da religião Iraniana - Zoroastrianismo, Zurvanismo, Mitraísmo, Maniqueísmo, tão bem quanto com o Shaivismo Indiano e o Cristianismo Nestoriano. Isso também foi verdadeiro nas cidades oásis de Silk Route, ao nordeste de Zhang-Zhung, tais como Kashgar. Alguns estudantes têm visto essa região do outro lado da Índia como tendo um papel principal no desenvolvimento de certos aspectos do Budismo Mahayana, e depois também no desenvolvimento da forma Tântrica do Budismo, conhecida como Vajrayana. Por exemplo, a revelação do Tantra Guhyasamaja é dito ter ocorrido ao rei Indrabhuti, em Uddiyana, e foi levado depois à Índia propriamente pelos Mahasiddhas Saraha e Nagarjuna. Além disso, sobre o Tantra Kalachakra é dito ter sido levado de Shambhala, na Ásia central, a Nalanda na Índia, no século X, pelo Mahasiddha Tsilupa. Os Bonpos vieram a identificar este Shambhala com o próprio Olmo Lungring. Tudo isso sugere que certas linhas dentro do Bon Yungdrung, por mais que tenham sido, posteriormente, plágios e imitações do Budismo Indiano, forjados no século X, atualmente retornam como o sincrético Budismo Indo-Iraniano, que uma vez floresceu no independente reino de Zhang-Zhung, antes de ser forçosamente incorporado no expansivo império Tibetano, no século VIII. Esse "Budismo", conhecido como gyer na linguagem Zhang-Zhung e como Bon em Tibetano, não foi particularmente monástico, mas mais Tântrico em natureza e sua difusão foi estimulada pela presença de vários Mahasiddhas na região, tais como o ilustre Tapihritsa e seus sucessores, habitando em cavernas do Monte Kailas e nos lagos ao leste, no Tibet Central. Até mesmo nesse século, o Kailas permanece como um importante local de peregrinação, arrastando sadhus hindus e yogis da Índia.



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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Ensaios de Chaos Magick.

Sundegai!


Um ensaio em diversas práticas de Magia do Chaos
de Legião Compilado por Fra. Tawüse Melek- 777 – a.k.a. Reinaldo Ribeiro

Este é um texto cadeia. Recebendo-o, por favor, o copie e passe-o para qualquer um.
Nenhuma maldição é invocada se você escolher não o fazer.
De qualquer forma nós ganhamos.

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Versão 2.11 distribua/adicione livremente.


1 - Introdução

Alguns conceitos chaves são comuns a vários sistemas/tradições/paradigmas. Nós persuadimos o leitor a não rejeitar ou aceitar estas construções teóricas, mas a tentá-las e verificá-las por experiência pessoal.

O todo está codificado dentro de cada um de seus constituintes - "Assim acima como abaixo."
O todo é interconectado, e todas as totalidades relativas compartilham na consciência em vários níveis.
O todo é auto-organizante, e a evolução de todas as formas é governada por princípios similares.
Por meio de uma vontade treinada e direcionada, nós podemos afetar a mudança (probabilidade > possibilidade) em vários níveis de organização.
Mudança é a única constante.
O todo é mais do que a soma de suas partes.
Nossas crenças definem os limites de nossa experiência permitida. "Realidade do Cotidiano" não é o limite de nossa experiência – entrando em estados alterados de consciência nós podemos experimentar outras realidades.
As entidades que podem ser encontradas durante nossas experiências destas outras realidades são reais dentro de seus próprios mundos. Questionar suas existências relativas é insignificante, uma vez que o universo comporta-se como se eles existissem.
Habilidade Mágica é engendrada através de uma jornada interna e transformativa.

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2 - Gnosis



Gnosis é a chave para as habilidades mágicas - a realização de um intenso estado de consciência conhecido em várias tradições como Não-mente, ´Foco único´ ou ´Sartori´. Consciência é esvaziada de toda informação exceto o objeto/sujeito da concentração. Vários métodos de alcançar gnosis podem ser empregados, da dança frenética à contemplação arrebatada de uma idéia. Qualquer que seja o método escolhido, o praticante continua-o até ele (a) ser levado (a) ao Êxtase. Alcançar gnose pode resultar, para o orientado religiosamente, em experiências místicas´ - Visitações por Deuses, Demônios, ou a revelação de verdades divinas. Para o magista, entretanto, o conteúdo de tais momentos de gnosis são menos interessantes do que o que pode ser feito com eles - é durante momentos de gnosis: que sigilos podem ser lançados; que o magista pode alcançar diretamente níveis de tempo-espaço para manifestar sua vontade; que Deuses podem possuir seus devotos. Historicamente, muitas das técnicas de gnosis tem sido aumentada pelo uso de drogas - dos ungüentos para voar das bruxas ao LSD e experimentos deprivatórios de sentidos de John Lilly. Qualquer sistema ou tradição é incompleto enquanto ele permanecer uma curiosidade teórica. Estudo isolado é de pouco valor, a não ser que seja complementado com prática a respeito. Obras completas podem ser escritas explicando a natureza mágica de diversas entidades como Deusas, Demônios, ou Espíritos, mas elas não são substitutas para a experiência real de uma deidade durante o curso de um ritual. Embora exista muita conversa sobre segredos mágicos, os únicos verdadeiros segredos são aqueles que podem ser pessoalmente descobertos através da luz da experiência mágica direta. Estados alterados de consciência podem ser alcançados usando uma combinação de mudanças internas (o uso dos métodos de gnosis), e interação com outros, como na hipnose, ritual de grupo ou orgia.



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3 - Invocando Esquisitices



Meu antigo Adepto costumava me dizer “Mano”, não existe nenhuma coisa que você não possa fazer se colocar sua mente nela. Então, distantes, nós fomos à completa realidade Golden Dawn para segurar a maré, à frente do mar em Bournemouth. Depois daquilo ele me fez fazer sigilos para fazer os cabelos de Harold Macmillan ficar na extremidade. Ele doou sua vida à magia disse ele, depois de conhecer Crowley em um banho turco (sauna), mas ele tinha entusiasmo ilimitado que era contagioso. Você sentia que podia fazê-lo, não importa o quanto estúpido ou absurdo o fosse. Ele gostava muito de dizer "Se o reino dos céus está dentro de você, porque gastar mais do que R$50 em livros de ocultismo?" Aqui estão algumas das coisas que ele me fazia fazer: "Todas as coisas que conhecemos extrata no final em suposições, então reverta todas as declarações, ou ponha nãos nas assertivas e vire-as antes de olhá-las. Acorde um dia e tente banir sua realidade diária - todas as coisas tornam-se novas, não familiares e totalmente frustrantes. Objetos se tornam intensos e assustadores.



Esteja errado. Gastamos muito tempo buscando por respostas corretas´, crenças certas, fazer o certo. Fazer certo = confiança = sucesso. Enfadonho! Esteja errado! "



Deuses e Gurus. Possessão por um Deus ou espírito permite você fazer coisas que ordinariamente não faria. Um guru prova que você pode caminhar em uma corda esticada sem cair, que você pode brincar no fundo de uma piscina sem se afogar. Insanidade parece ser um risco ocupacional de magistas. Melhor ser maluco agora e poupar tempo depois.

Sanidade está lá fora antes do que na sua cabeça, uma vez que a maior parte das pessoas parece ver a si mesmas como mais louca do que o resto. Se dissermos muitos pensamentos loucos, somos trancafiados. Lembro de uma mulher no asilo local que dizia ser um passarinho na gaiola - ela tinha aprendido a ficar calada sobre isto, pois dizê-los aos outros só havia conseguido mais medicação e Eletrochoque para ela. Ser safo é ser sano - não expressando seus pensamentos loucos. Magia pode ser sobre deixar seus pensamentos loucos saírem para ver as ruas em grupos. Magia é uma coisa da rua. Magistas precisam ser vistos e ouvidos. A personalidade travessa de Crowley exemplificava isto, seguindo o caminho em zigue-zague de Cagliostro, Simon Magus e inumeráveis Shamans e bruxas de todo o mundo. Um bom magista toca para sua audiência, seja ele um shaman tribal fazendo ritual de IFÁ ou um feiticeiro da esquina fazendo talismãs anti-polícia de tampas de latas vazias. Aprenda a iludir dançar, jogar ludicamente; estes são os verdadeiros poderes mágicos. Se você está realmente indo tornar-se um pequeno megalomaníaco ascendente, você pode também conseguir algumas risadas enquanto isto. Passe o Chapéu.



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4 - Titã-Gnosis



Existe uma grande discussão no momento no assunto da mudança no Aeon, e da influência de várias Correntes. Aparentemente algumas pessoas sentem que a era de Aquário - verdade, justiça, comidas sadias, não-nuclear e brincadeiras pagãs pacíficas é apenas, como nos botecos dizem “Caraio!!”. De outro lado, a possibilidade do Novo Aeon ser governado por zumbis canibais radioativos também não pode ser eliminada totalmente.




O século XXI está ocupado ressurgindo os titãs - os primais “construtores” dos cosmos que aparecem nos mitos da Criação sob vários modos - os Gigantes da mitologia Nórdica ou os Titãs Gregos por exemplo. Uma vez que estas forças Titãs tinham completado seus trabalhos, eles eram banidos ou mandados embora do cosmos ordenado, que era então povoado com todas as formas de entidades. Os Titãs estão sempre presentes, espreitando das beiradas da “realidade”. Estas forças, tanto destrutivas e criativas, continuamente aparecem na literatura como o tema de conflito entre a razão e a natureza baixa, primária. O “Sacerdote” de tais mistérios é o autor H.P. Lovecraft, do qual os “Antigos” parecem reter uma fascinação contínua dos ocultistas, juntamente com vários outros panteões de Deuses Negros, Deuses da Morte ...



O mito cíclico dos Titãs representa a catabólica força que propaga mudança em qualquer sistema, seja na escala universal ou subatômica. Eles são compreendidos estar dormentes ou sonhando e nisto estão em equilíbrio. Entretanto, quando um sistema envolve um certo grau de complexidade se torna incrementalmente instável, o que pode eventualmente levar tanto a evolução - o sistema “evolui” para uma ordem superior de complexidade, ou entra em colapso, destruindo-se. É nestes pontos críticos que os Titãs

mais uma vez tornam-se ativos - quando um grande volume de instabilidade precisa ser construído, para que o salto evolucionário seja feito.



O desenvolvimento de tecnologia nuclear tem levado a um incremento súbito de pontos de acesso onde as esferas encontram-se entre nossa realidade ordenada e o Caos Primal dos Titãs. Os portões tem sido abertos, e a evolução de todas as entidades dentro da biosfera (tanto orgânica como Elemental ) está sendo afetada. Enquanto o poder dos Titãs retorna, um novo sacerdócio tem surgido para adorá-los - os políticos obcecados por poder e seus numerosos seguidores. Como os magos inatos dos Mitos de Cthulhu, eles acreditam que os Titãs podem ser controlados, e que eles possuem os encantamentos para combinar e encadear as forças nucleares sem perigo. Desafortunadamente para eles ( e nós ), os Titãs são completamente amorais, não sendo conscientes como nós o conhecemos. Nosso único ponto de interface com eles é através do assim chamado cérebro de Dragão, com seus atavismos pré-verbais e conduções instintivas.



Titã-Gnosis é o nome que nós demos para a evolução em consciência que os Titãs estão gerando nos seres humanos enquanto suas ondas ativas atravessam nossa mente. A percepção cresce de que a sobrevivência humana ultrapassa todos os limites, ambos ideológicos e cultural; que é necessário viver melhor dentro da natureza melhor do que destruindo o ambiente. Parece que enquanto os Titãs agitam em sonhos de morte, mais próximos nós estamos de “acordar” em números maiores e maiores.



O ponto traiçoeiro acerca dos Titãs é que por enquanto, nós necessitamos deles se o salto evolucionário é para ser feito bem sucedidamente. Seu retorno é gerado pela corrente entrante que tem sido conceptualizada, variadamente como 93, Ma´at ou Chaos. Na análise final, os nomes e simbolismos utilizados não são tão importantes - eles são facetas de um mesmo processo (n.t. o retorno dos Titãs).



Magistas e outros visionários que estão atentos para a Titã- Gnosis e seus efeitos estão agora trabalhando ativamente como transportadores para estas energias. Evocação destas energias titânicas para dentro do ensejado espaço-tempo de alguém é uma jornada perigosa. O uso de nomes, sigilos, e cantos são apenas parcialmente úteis, desde que os “nomes” dos Titãs formam a estrutura de nossa própria realidade.




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5 - Ego & Vontade (continua)



O conceito do Ego - a estrutura psíquica de autoidentificações, crenças, desejos e personificações é reconhecida como a base de nosso psico cosmo. Um curioso mal-entendido tem emergido, de que o Ego é uma barreira para o desenvolvimento mágico - que isto deve de alguma maneira ser derrubado ou destruído antes que alguém possa avançar na espiritualidade. Para alguns, parece que enquanto o “desenvolvimento ocidental” constrói o ego, os meios orientais baseiam-se em transcendência do ego. Existe muita discussão de “ser superior” que aparece após o ego ter sido transcendido - este é um tema comum no assim chamado pensamento “Nova Era”. A psique entretanto, não é uma entidade estática, e este tipo de coisa “ego versus ser superior” é um extravasamento da racionalista divisão corpo - mente. Tentativas de se livrar do ego podem facilmente resultar em um desenvolvimento de um lado só, promovendo ambos autoimportância e atitude de mais santo que outros. Evitar o assim chamado aspecto sombrio de desejo humano resulta em uma caricatura superficial da potencialidade humana, uma gentileza que evita o sondar das profundezas da psique. Clareza de pensamento, insights e esforço são polidos com uma cobertura de felicidade.



Trabalhar com o ego é iniciar uma alquimia interior, cujo objetivo não é destruí-lo, nem transcendê-lo, mas mover de um estado de fixação (ego-cêntrico) para uma condição de mutabilidade (exo- cêntrico), que é capaz de constante revisão e mudança. Isto é o que se diz com a frase ´lettin go´ (n.t. deixar ir), e de dissolver a idéia da mente como separada do mundo. O ego subsiste como um ponto de “Eu”, que dá significado para a experiência, ainda que o conteúdo da psique torne-se mais fluído. De certa forma, é o ego que enraizamos no espaço-tempo – o equivalente psíquico de ter o senso de lugar, de ocupar um conjunto particular de coordenadas. A maioria de nossa experiência de realidade está no nível de objetos, corpos e eventos que parecem ser temporariamente separados. Nós experimentamos a nós mesmos como centros de vontade, percepção e ego.



Em contraste com o ego, a vontade mostra uma qualidade de vetor, e nisto ambas direções e magnitudes. A vontade é “a onde” para as partículas do ego. Embora nós gostemos de pensar em nós mesmos como centros da intencionalidade, muito de nosso comportamento é resultado da ressonância vetorial - ondas ondulando, aparecendo em nosso universo de tempo-espaço como eventos separados e experiências síncronas. A chave para a apropriada postura mágica é dada por Crowley em sua novela, Filho da Lua: "... o homem inteligente, assim chamado, o homem de talento, expulsa seu gênio pela construção de sua vontade consciente como uma entidade positiva. O real homem de gênio deliberadamente subordina-se a si mesmo, reduzindo-se em uma negativa e permite seu gênio brincar com ele como queira..."



O conceito Thelêmico de realização da Verdadeira Vontade necessita de um desdobramento de consciência da vontade como uma qualidade vetorial. Vontade impõe organização - ordem fora do chaos normal (Austin Osman Spare), e a realização da Verdadeira Vontade envolve uma obediência à atenção dos padrões evolucionários que governam o desenvolvimento humano. Vontade é uma propriedade emergente de nossa interação com o ambiente total - não pode ser isolada por nenhum elemento.

Vontade, percepção e consciência - nós estamos imersos nelas da maneira que um peixe está imerso na água. Elas são propriedades emergentes da biosfera total de Gaia.



Como esta alquimia é concluída? A chave é integração – dissolver a fragmentação do corpo-mente, matéria-espírito. Entrar em uma dança ser-no-presente, imerso no corpo de Gaia, no interior do universo. Vontade em qualquer nível é um princípio organizante - shakti-kundalini em espiral cria todas as formas. Portanto: Invoque sempre, sentindo todos os atos mágicos como uma passagem da Vontade através de você. Atenda à reconstrução contínua de seu psico-cosmo através do examinar de crenças, desejos e atitudes.

Busque união com tudo o que você tenha rejeitado. Pratique mágick como sua verdadeira sobrevivência dependesse disto. Esqueça tudo que lhe foi dito sobre o mundo, assuma nada e desenvolva seu próprio caminho. Tome mais Cervejas!



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6 - Sigilos



Sigilização é um método pelo qual um desejo/intenção é codificado em uma forma não óbvia, i.e. um glifo ou figura que não imediatamente chama a mente a intenção original. Qualquer intenção mágica pode ser escrita e as letras misturadas para formar uma figura, mantra ou neologismo, que pode ser repetida ou objeto de concentração até que ocorra gnosis. Alternativamente, o sigilo pode ser deixado de lado até que seu propósito original seja esquecido, e então lançado.



Durante gnosis ou momentos de grande sentimento emocional, o sigilo pode ser desenhado, visualizado e foco de feroz concentração, até a exclusão de todo o resto. Isto habilita a assim chamada mente subconsciente a reprogramar a realidade de acordo com a vontade. Uma vez que o sigilo é lançado, ele é esquecido, para que a realização do desejo não seja impedida pela ânsia do resultado.



A palavra, dita ou escrita, forma a maioria dos sigilos. É também válido experimentar codificar os desejos com aromas, gostos ou sons específicos. Sigilos podem trazer uma grande variedade de resultados, do mais abstrato ao mais mundano. De alterar conteúdo de sonhos, a reformas de comportamentos e hábitos, a arranjar consciências fortuitas.



Sigilos podem ser formados desta maneira independentemente de qualquer sistema planetário e outros símbolos, e podem ser lançados em rituais elaborados. Como um método de magia prática, ele é simples e elegante; sua efetividade pode ser descoberta através de experiência pessoal.





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7 - Dançando no fio da navalha



Duelos mágicos deliberados entre feiticeiros são geralmente considerados magia negra pelos ocidentais, enquanto combate mágico pode ser um caminho extremamente poderoso de trazer magistas aprendizes para completa operacionabilidade.

Tais testes de ginástica podem ser encontrados nos desafios de pupilos Zen sobre mestres diversos, as explorações xamânicas de Carlos Castanheda ou Lynn Andrews, e na lenda de Nimue e Merlin.



Como parte de uma iniciação, pode ser esperado que o candidato defenda um local ou objeto, apesar de todos os esforços combinados do grupo em obtê-lo. Ataques mágicos de longo alcance podem empregar impulsos telepáticos destrutivos, projeção de formas pensamento ou magia simpática (bonecos voodoo ).

Combate mágico deve ser diferenciado de ataque psíquico, no qual uma grande proporção de ocultistas se considera estar, e é amplamente um produto de auto-desilusão e degraus variáveis de megalomania.



Combates mágicos verdadeiros tem suas regras próprias e limites, que são conhecidos pelo expert, enquanto um aprendiz deve rapidamente aprende-las, se quiser evitar trauma. Preso em uma situação que ele (a) acha incompreensível e alienígena, o aprendiz apenas conhecerá confusão e terror. Despido da presunção de que “isto não pode acontecer comigo”, ele (a) aprende a perceber o ambiente com clareza, a dar atenção para os ritmos e pulsos do mundo. Verdadeiramente, Morte é uma grande professora. Se você poder alcançar além e ver o momento de morte, então aquele momento irá lhe dar um vislumbre de seu potencial. Nisto, o magista é menos um guerreiro e mais um ladrão ( Garantido, “Ladrão do Caos” não é um título tão atrativo quando ´Guerreiro do Caos´).

Prometheus é a imagem mítica apropriada - o furtador do fogo. Ninguém pode lutar com a Morte e vencer, mas ela pode ser lograda. O magista é alguém que faz cambalhotas para trás, um tolo sábio. Ninguém leva um tolo seriamente. Torne-se um tolo e deixe um rastro falso. Deixe cair a máscara de iniciado e pegue seus parceiros para a dança.



O progresso de magistas ocidentais não parece ser tão terrível como os desafios de magistas em outras culturas. Desde que tanto conhecimento possa ser comprado, a idéia de lutar contra desafios de poder soam distante. Isto não é só um glamour; situações de risco de vida ou mentalmente traumáticas podem abrir os portões de habilidade mágica de uma forma que nenhum workshop de final de semana ou curso de correspondência jamais poderá. Viver no limite é uma frase apropriada, como se não existisse espaço para meias medidas. Um combate mágico, se propriamente arranjado, irá forçar você a reaprender o que você precisa, para ser capaz de fazer o que é preciso para sobreviver. Se um Magus está indo passar seu poder para outro, ele deve ter certeza de que o candidato tem as qualidades (um instinto de sobrevivência e poder de permanecer) necessárias para aceitar a responsabilidade? Que a posição requer. O objetivo de tal combate é construtivo, mas se o candidato falhar - assim deve ser.



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8 - Ritual



Durante o ritual, a rede de conceitos, símbolos e mapas mentais tornam-se vivas e a experiência direta produz uma mudança na consciência. Ritual envolve deixar de lado o mundo do dia a dia e criar uma bolha onde todas as limitações estão suspensas, e o poder da magia flui desimpedido. Um grupo bem sintonizado pode agir como um chip de silicone dentro da biosfera (nós gostamos às vezes de pensar que Gaia como sendo a Motherboard), acessando e interfaceando com outros subsistemas através dos códigos de símbolos, gnosis e imaginação, permitindo que a mudança se manifeste em todos os níveis possíveis no sistema - Desenvolvimento da Era, ritmos sazonais, desenvolvimento psíquico - Assim aqui como em todos os lugares.



O uso crescente de metáforas de computadores dentro das células Legião tem influenciado nosso estilo de ritual. Nós temos abandonado a forma tradicional, com seus formatos quase religiosos e robes monásticos. A moda corrente é jaquetão branco de laboratório, luvas e máscara negras. Isto junto com andar de robot e fundo de decoração eletrônico nós dá um estilo distinto. Garantido, Madame Satã é um ótimo laboratório Magicko. Danças podem refletir as energias espirais do universo, manifestando no DNA e outras formas. A formação de uma interface remota (MSN, Orkut, Caralho a Quatro) permite o grupo trabalhar rituais enquanto estiverem temporariamente ou espacialmente separados, se necessário.



Rituais criam Ordem do Chaos, uma esfera dentro da qual tudo (até nossos erros) é uma expressão de vontade. Quando invoca a Corrente do Chaos, alguém está identificando-se com a mudança dos Aeons, então literalmente este alguém se torna a corrente, como um lugar físico.



Armado com esta consciência, um ritual sazonal pode se tornar um poderoso foco de mudança, enquanto o pulso sazonal é direcionado tanto para dentro (mudança pessoal) quanto para fora (mudança ambiental). Tradicionalmente, estes festivais são encruzilhadas entre os mundos - e consciência das dimensões interna/externa parece ter sido amplamente esquecida pelos ocidentais, protegidos como somos dos elementos pelos nossos corpos centralmente inflamados (protegidos como somos dos elementos pelo nosso egocentrismo).



A escala na qual um ato ritual manifesta é dependente da vontade dos seus participantes - qualquer coisa desde a vidência das ondulações e movimentos do Chaos até a desfigurar a própria fábrica de espaço-tempo. O formato do trabalho é aquele em que os participantes percebem ser apropriados para o intento - invocação pode ser verbal ou estruturada pelo arranjo de sinos e congos de tons diferentes. A sequência de danças pode ser arranjada para refletir a transformação da forma na forma, ou da energização de maquinas astrais ou circuitos. Um ritual, começa fisicamente, podendo ser re-encenada ou continuado nos sonhos.



Nós temos achado que geralmente, são os rituais estruturados que simplesmente têm o resultado mais efetivo. Vontade é o toque de pluma que pode mover montanhas.



Como com qualquer outra coisa, o ritual de outros somente será efetivo para você até um ponto - olhar para os rituais das outras pessoas como dispositivos de aprendizagem. Ritual por si só é raramente efetivo, mas quando reforçado pela Vontade/Intenção, é altamente efetivo. Entretanto a condição de mente que deve ser dominada é parar de pensar sobre se o rito será ou não efetivo. Ânsia pelo resultado deve ser substituída por uma certeza celular que uma vez que a seta do desejo tiver sido lançada, ela irá acertar o alvo. Por todos os meios, discuta a experiência, técnica e como poderá ser feito melhor da próxima vez, mas deixe o desejo/intenção desaparecer da preocupação consciente.



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9 - Armas Mágicas



"Seu corpo e mente são ferramentas preciosas" - Bene Gesserit



O suficiente tem sido escrito sobre as tradicionais armas de magia, então nós não aumentaremos a verborragia. Em geral, uma arma mágica é um foco para percepção e vontade - um veículo para energia etérea/astral (seja lá o que for). Forma física é uma consideração secundária. Uma arma é qualquer instrumento imbuído de poder. Alguns instrumentos xamânicos - bonecas, máscaras, chocalhos, tambores, etc, tem sua história própria, personalidade e carisma - eles são completamente prováveis de morder o descuidado, e são considerados pelos seus donos como semi-conscientes. O relacionamento entre tal arma e seu dono é similar àquele entre um humano e um gato. Uma verdadeira arma de poder possui a si mesmo e é perfeitamente provável que decida

quando deve ser passada para frente.



Talvez a primeira arma seja o corpo. Em combate mágico, projeção da Bio-Aura pode corromper o campo de outra pessoal, e o empurrão resultar em trauma psico-físico. Yogis orientais são reputados serem capazes de causar a morte pela aplicação de mantra yoga.

A forma que experimentamos nosso corpo tende a refletir nossa experiência de mundo - ver o corpo como uma máquina e ela é passível de se quebrar. Nós da Legião preferimos ver o corpo como um biosistema, um microcosmo da biosfera, ele mesmo um microcosmo do universo. Então o corpo torna-se uma arma para o entendimento de sistemas maiores nos quais estamos imersos.



Ao invés de sustentar que aquelas armas A, B, C e D, como necessárias antes que alguém comece a praticar magia, nós nos colocamos em nossos caminhos e deixamos que as armas se mostrem para nós. Como Don Juan diz, não existe tal coisa como um acidente para um homem de conhecimento- tudo está lá fora, esperando para ocorrer. Então, ao invés de procurar por uma arma fora de nós, ou de correr à uma loja esotérica e comprar uma, nós atraímos os instrumentos necessários para nós pelos nossos trabalhos – isto pode se manifestar através de um achado, de um presente ou apareça como uma entidade inspirada em alguma outra dimensão. Um exemplo desta última alternativa é o objeto com chifres possuído por sKaRaB, que foi inspirado a desenhá-lo durante um momento de vacuidade (assistindo TV) e horas mais tarde, viu-o no astral:



"fui dormir cerca de 01:45. Procedi a visualização da imagem do objeto num templo egípcio. Encontrei o objeto preso em uma falha no chão, de forma que estava ereto. Agarrei o objeto com minha mão direita e uma onda de energia intensa me invadiu, começando na base de minha espinha - tirando meu fôlego, mas não violentamente. Vibrei os nomes divinos do objeto (recebidos anteriormente) : Ra, Isis, Ma´at, Hatar, Sekhmet - com cada vibração, a agitação aumentava. Mudando a postura do corpo não interrompeu isto. Soltei o objeto e assumi a forma astral de Osíris sacrificado. Senti calmo, brilhante, mas cansado. Peguei o objeto novamente e senti as vibrações físicas percorrerem meu braço direito. Invoquei Hathor e disse mentalmente: Basta - Não consigo aguentar mais. A energia cessou abruptamente. Deixei a forma astral do objeto no templo.

Trabalho encerrado as 05:35."



SKaRaB nota que a montagem subsequente do objeto físico foi uma transformação em si mesmo, embora a forma etérica e personalidade tinham sido já estabelecidos em grande extensão. Quando assistido SKaRaB e o objeto em ação, era difícil às vezes dizer quem estava segurando quem. A arma tinha conhecimento e seus próprios familiares, e poderia ainda abandonar SKaRaB e encontrar outra pessoa que pudesse efetivar seu propósito em maior precisão.



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10 - Neuromancia



Neuromancia centra toda habilidade oculta e potencial dentro do cérebro humano - possivelmente o menos compreendido e mais complexo de todos os sistemas. Todos os exercícios ocultos, de acordo com este modelo, tem algum tipo de efeito no cérebro, e também sucede que à respeito de experiências como possessão, gnosis, etc, que a raiz do evento está ocorrendo no nível neurológico.



Então o objetivo de qualquer psico tecnologia é destravar os poderes do cérebro humano. Nós acreditamos que a adaptação evolucionária da humanidade é um contínuo desenvolvimento da consciência, e o lugar onde todos os vetores se encontram é expressado, na forma física, como o biosistema individual.



De todas as técnicas de neuromancia, o recurso à Quimiognosis é o mais difundido através das culturas, e particularmente no hemisfério ocidental, o que mais causa controvérsia. Apenas aqueles que tenham recebido treinamento médico, e que pode consequentemente dizer de uma posição de autoridade que eles não conhecem como o cérebro trabalha, são autorizados a mexer com isto - através de ECT, cirurgia e o bom e velho cassetete químico. Enquanto é fácil para aqueles cães de guarda impor suas vontades sobre o cérebro de outros, é bem outra coisa para as pessoas não qualificadas tentarem consigo mesmas.



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11 - Tecno-shamanismo



Porque usar uma bola de crista? Tente uma televisão fora de estação - vem de graça um fundo intermitente e ruidos!



Recupere o descarte de outras pessoas e use-os para produzir objetos mágicos. Talismãs feitos de colagens e foto-montagens, pedaços de latas e partes de rádios velhos.



Invoque os fetiches da era moderna, canalize as identidades corporativas da Coca-Cola ou Windows. O que nós chamamos feitiçaria, eles chamam publicidade.



Rituais para Parar a cidade, furtos de loja, batidas de carro ou zerar computadores são muito mais divertidas do que as coisas usuais. Veja se você consegue conjurar um poltergeist para baixar (Download) o terror (vírus) no seu local de trabalho.



Experimente com transmissões de notícias de rádio falsas. Faça fitas de áudio anunciando maluquices e toque-as sem alarde em lotadas estações de trem ou ônibus. Veja as pessoas pensando:”Eu realmente ouvi aquilo?” E curta a suspensão momentânea da realidade para conseguir fazer alguma feitiçaria espontânea! Talvez nós precisemos de uma revolução de feiticeiros?



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12 - Dance e se dane!



Nós somos magia. Isto não é uma ostentação, nós não encontramos "Legião é magia!" colocados em pontos de ônibus - mas magia não é algo que fazemos, ou algo em que estamos dentro, é o que decidimos ser. Mas nossa magia não é algo que sentimos distante e que fazemos depois do trabalho, em finais de semana, ou uma vez por semana quando o grupo se encontra - diabos, o melhor trabalho de grupo que fazemos é quando estamos separados! Magia nós vivemos, comemos, respiramos e cagamos! Este livro é uma breve pausa no vídeo - uma pausa momentânea para nós. Quando você estiver lendo isso, nós já teremos partido, no curso de colisão com nossos futuros.



Escreva o seu Livro de Magia do Chaos.

Porque comprar livros de Magia do Chaos quando você pode escrever o seu próprio?! É simples, tudo que você precisa é um monte de papel, canetas, cola, e a substância alteradora de consciência de sua preferência. Vá até a livraria e escolha livros aleatoriamente, colete uma pilha de revistas de lugares onde você puder obtê-las gratuitamente. Grave pedaços das conversas de outras pessoas. Junte todas estas coisas e coloque no chão em uma pilha. Tome o sacramento (Cervejas), espalhe a pilha de coisas no chão e comece a cortar os pedaços (não faça isso com os livros) em clippings. Quando você alcançar gnosis ou encher o saco disto, varra tudo para uma caixa de papelão.

Não esqueça de inserir a palavra “Chãos” no texto a cada duas ou três frases. E próxima semana nós estaremos mostrando para você como fazer a capa para contar tudo isto, um tema musical legal... créditos.


Este é usualmente o estágio em todo volume de Magia do Chaos onde os autores começam os insultos e diarréia verbais e começam a encher lingüiça com exemplos de rituais, feitiços, novos sistemas de adivinhação ou equações. Então sem mais alvoroço nós apresentamos o ritual de banimento Legião : "FODAM-SE SEUS BASTARDOS!"



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13 - Entropolítica



Não existe tirania no estado de confusão´... A mídia age para censurar a informação. Toda mídia em rede é programada para dar a ilusão de liberdade de expressão e multiplicidade de opções.

Manipulação política da media está tornando-se possessora... quem se importa?



E sobre as assim chamadas revistas de ocultismo underground? Elas tendem a ser produtos de indivíduos, ordens ou grupos, e provêem uma rede essencial para passar informações - ou para injetar uma dose saudável de desinformação. Nós tendemos a julgar um grupo oculto pela base das informações circulantes sobre ele. Tais julgamentos são no mínimo tênues. No passar dos últimos anos, nós temos visto o debate Caoístas x Cabalistas, o ´Bitchcraft´ da Wicca, e as numerosas facções OTO todas tomando suas posições.

Embora exista muita discussão sobre as Correntes do Chaos, a mais poderosa corrente é aquele som das caixas eletrônicas registrando mais uma venda... ´ring!´ Magia do Chaos já está morta, e o único debate atual entre os abutres é sobre quem fica com os maiores ossos. Então volte às suas câmaras caóticas, esferas, politrapezóides e desapareça sobre suas ondas de vácuo. Surfe as ondas do Chãos!



Sem dúvida existem tentativas de classificar Legião entre as facções deste quebra-cabeças. Bem justo, mas nós gostamos de todo mundo. Nós gostamos da OTO, ONA, IOT, OS, OTOA, BOTA, SOL, OCS. Nós também gostamos das pessoas que mantém posição (em grande extensão) e nós gostar de ... (insira um grupo de sua escolha).

Magia do Chaos tem sido a onda deste Aeon. Relativamente boa grana nas arrebentações da mídia ocultista. Alguns dizem que ela fez pela magia o que o punk fez pelo cenário musical. O que sucederá então... Nova Re-magia?



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14 – Legião Nacy



Quando você estiver lendo isto nós não estaremos mais em Legião. Nós não somos uma ordem no senso comumente aceito. Apikorsus é a palavra grega para céptico.



Minhas arvores carregam um estranho fruto: dividam e repartam de mesma forma. -- Eris, ´the Stupid Book.´



T.T.F.N:

Fra. Tawüse Melek- 777

com agradecimentos aos sócios Marcos e Denis pelas risadas insanas e Cervejas geladas.


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15 - A maldição do Black Djinn



Autor: Hakim Bey (copiado da NOX 4/Chaos Magazine)



Como invocar uma maldição terrível em uma instituição maligna.



Mande um pacote para a instituição contendo uma garrafa, com rolha selada por uma cera negra. Dentro da garrafa: insetos mortos, escorpiões, lagartos e semelhantes. Uma sacola contendo sujeira de jardim junto com outras substâncias nocivas; um ovo perfurado com pregos e alfinetes, e um pergaminho no qual esteja desenhado este yantra ou veve.



Isto invoca o Black Djinn, a sombra negra.



Uma nota junto com o pacote pode explicar que esta maldição é contra a instituição, não contra pessoas. Mas a não ser que a instituição por si mesma cesse de ser maligna, a maldição, como um espelho, começará a infectar as propriedades com uma infecciosa fortuna - um miasma de negatividade.



Prepare uma matéria de imprensa explicando a maldição e dando crédito pela mesma à alguma sociedade fictícia. Mande cópia para todos os empregados na instituição e na mídia selecionada. Na noite anterior à chegada destes, cole cópias do emblema (yantra)

do Black Djinn nas propriedades da instituição, onde elas sejam vistas pelos empregados quando estes chegarem para o trabalho de manhã.



"Aquilo que nos oprime deve de alguma forma ser destruído; Todas formas de vingança mágica são miradas para o extermínio, através de qualquer meio específico, do opressor. Se for muito difícil de ascender acima, golpeio embaixo!" - Stephen Sennit, NOX.

Os Nove Caminhos do Bon

 Os nove caminhos do Bon-Po Dzogchen. Reinaldo Ribeiro Tonpa Shenrab - O Fundador do Bon O fundador da religião Bon...